quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A Biblioteca e a Educação

A Biblioteca e a Educação

Charlene Lemos, Gisele Aguiar, Nilson Vieira e Tatiane Souza*

Em um país onde a educação e a cultura são deixadas em segundo plano, reconhecer e fortalecer a presença da biblioteca na formação educacional é um desafio a ser enfrentado
Quem lê mais escreve melhor
Em 2001, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEPE), com base nos resultados das provas de 300 mil estudantes aplicadas pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB), fez um estudo que revela um desempenho quase 20% superior, principalmente em Língua Portuguesa, nos colégios em que mais de 75% dos alunos manipulam e lêem regularmente as obras das estantes.
As bibliotecas escolares, públicas e universitárias contribuem parta o estímulo à leitura e devem trabalhar em conjunto com as instituições de ensino e as comunidades. Mas qual é o papel de cada biblioteca nessa história? "Que tal folhear essas páginas e descobrir?"
Biblioteca escolar
A atuação da biblioteca escolar na vida da criança é de extrema importância para o incentivo à leitura e o desenvolvimento dos futuros leitores. É ali que se inicia o contato com os livros, a base para a futura autonomia do leitor no uso e manuseio da biblioteca. Se esse trabalho educativo, no momento do ensino básico, não for bem feito, afastará o aluno da biblioteca, pois sem saber usá-la, sem um tipo de orientação de como utilizá-la, o estudante sentirá insegurança e a sensação de que sua necessidade não foi atendida.
Apesar da conscientização de que a biblioteca é um instrumento relevante na escola para a formação de leitores, temos observado uma atuação contrária das autoridades públicas, dirigentes das escolas, professores e bibliotecários. Professores, atuam isoladamente, no incentivo à leitura, bem como, os bibliotecários em suas respectivas bibliotecas. Ações isoladas não levarão os alunos a buscarem o livro por prazer ou a terem paixão pela leitura; pelo contrário, os alunos irão até a biblioteca para o cumprimento de suas tarefas escolares ou simplesmente para a cópia de verbetes em enciclopédias.
Jonas Ribeiro, escritor e contador de histórias, define a biblioteca escolar como "o cérebro da escola, a memória, o lugar de produzir conhecimento, reflexão e discussão", porém, essa atuação dinâmica, viva, da biblioteca, só poderá ser desenvolvida de forma articulada com a ação do professor. Professor e bibliotecário devem transformar a biblioteca no centro de atividades da escola afim de que a permanência nesse espaço seja um prazer para o aluno e não uma obrigação.
Escolas sem bibliotecas, ausência de bibliotecários nas escolas, professores impondo suas opiniões sem estimular a reflexão do aluno, tudo isso contribui para a má formação dos alunos e precisa ser mudado. A conscientização de que a biblioteca é um pólo de incentivo à leitura não basta, o lamento de que os alunos não freqüentam a biblioteca e que ela é esquecida dentro da escola não basta. Todas essas questões já foram discutidas e ainda o são. Agora é o momento de desenvolver ações concretas e direcionadas em favor do livro, da biblioteca, da leitura e do aluno, tais como "Hora do Conto", "Competição Literária", saraus e debates. Ações integradas que farão das instuições biblioteca-escola, de fato, parceiras.
Uma vida destinada ao livro e à Biblioteca Maria Helena T. C. Barros nasceu em uma família que sempre valorizou a cultura em suas mais diversas formas de expressão. A ida a museus e exposições sempre estava na agenda da família. Mas, foi o acesso aos livros que marcou a vida de Maria Helena; incentivada a ler em casa encontrou na Biblioteca Escolar o lugar perfeito para dar asas a imaginação e complementar as pesquisas escolares. Ela recorda a presença marcante da bibliotecária, na Escola Infantil onde estudava, que realizava atividades de ação cultural em uma época em que isso ainda não era conhecido.
Já adolescente, prestes a entrar na carreira universitária, decidiu estudar pedagogia e ser professora, mas ao perder o prazo estabelecido para inscrições no vestibular foi informada que poderia fazer o curso superior de Biblioteconomia. Foi nesta ocasião que viu o destino ligando-a novamente ao mundo dos livros e das Bibliotecas. Graduou-se e durante muitos anos realizou um brilhante trabalho como Bibliotecária escolar despertando o gosto pela leitura a muitas crianças, adolescentes e adultos.
Mas não parou por aí, dedicando-se também ao ensino da Biblioteconomia na Faculdade de Filosofia e Ciências da UNESP e aprofundou-se no estudo da Biblioteca Escolar (sua importância, problemas, políticas etc.), tendo livros e artigos publicados sobre o tema, além de ganhar muitos prêmios de reconhecimento por todo trabalho realizado. Hoje já aposentada não consegue se imaginar longe dos livros, da Biblioteca e da sala de aula e vê como fundamental a presença da Biblioteca Escolar na sua infância, assim como a influência da Bibliotecária para todo o destino de sua vida.
Biblioteca pública
A biblioteca tal como conhecemos hoje, surge na revolução industrial onde ocorre a mudança de biblioteca/museu para biblioteca/serviço, oferecida ao público. Buscar a história da biblioteca ou o registro da informação na sociedade é buscar a história do homem, pois estas estão juntas. A biblioteca mais antiga de que se tem notícia é a de Nínive no Iraque (antiga Mesopotâmia), que pertencia ao Rei Assurbanpal, onde os arqueólogos encontraram cerca de 22 mil placas de argila, considerados os primeiros suportes de escrita. A mais célebre biblioteca construída na antiguidade foi a de Alexandria, erguida no século IV aC., que chegou a ter 700 mil volumes antes de ser destruída por um incêndio.
O modelo de biblioteca, tal como conhecemos hoje, surgiu na Revolução Industrial quando ocorreu a mudança de conceito de biblioteca/museu para biblioteca/serviço. Segundo a estudiosa Divina Aparecida da Silva, podemos definir a Biblioteca Pública como o espaço que tem por finalidade “atender às necessidades de estudo, consulta e recreação de determinada comunidade, independente de classe social, cor, religião ou profissão”.
Para o pesquisador Antônio Miranda, a missão das bibliotecas é “promover o idioma nacional por meio do incentivo à leitura; fornecer publicações oficiais – com informações voltadas aos deveres e direitos, bem como oferecer oportunidades, mecanismos nos quais o indivíduo pode desenvolver o progresso próprio, da família e do país; fornecer livros e outros materiais para estudantes e profissionais; apoiar campanhas de alfabetização; ser a memória cultural, histórica e cientifica da nação; além de fornecer serviços de informação técnica e comercial”.
Diversas atividades são realizadas nestes espaços, desde a hora do conto (para o publico infanto-juvenil), a organização de campeonatos de xadrez, apresentação de vídeo até mostras de cinema, iniciativas estas de profissionais antenados para as possibilidades de disseminar a informação.
Biblioteca universitária
É papel primordial da biblioteca universitária oferecer o suporte ao ensino, a pesquisa e a extensão São nas universidades que a problemática da falta de acesso e hábito da leitura se enfatiza, pois o mesmo aluno que atravessou as etapas anteriores desinteressado pelos livros é inserido num contexto em que a exigência sistemática de leituras e pesquisas se torna imprescindível. Apesar de possuír boas noções de internet, ele não sabe sequer encontrar um livro na biblioteca.
Para Luís Milanesi, bibliotecário e professor de 3º grau, muito mais grave do que isso é perceber, em muitas universidades, que os alunos continuam não sendo incentivados a buscar ou complementar seus conhecimentos na biblioteca, simplesmente porque o docente não o estimula. O professor continua a ser o centro das atenções e o seu discurso, prioritário, mantendo o aluno passivo diante do conhecimento.
Cabe aos professores conhecerem as obras clássicas e se informarem sobre as novidades para indicar e estimular os alunos a lê-las e, assim, confrontar conhecimentos e opiniões em sala de aula. E cabe à biblioteca universitária ter um acervo rico e diversificado, contemplando os assuntos dos cursos presentes na faculdade onde ela está inserida.
É papel primordial da biblioteca universitária oferecer o suporte ao ensino, à pesquisa e à extensão com a precisão e a rapidez que o meio acadêmico exige. Os bibliotecários - além de serem responsáveis pelo armazenamento, seleção, organização e disponibilização das informações – devem auxiliar os alunos a desenvolverem suas pesquisas. Sendo a pesquisa científica fundamental para o desenvolvimento de um país, a universidade e a biblioteca se tornam peças-chave neste processo.

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