segunda-feira, 22 de junho de 2009
Site da USP disponibiliza 3.000 livros
Site da USP disponibiliza 3.000 livros
Fonte: Folha
Reitoria da USP lançou nesta semana um site que disponibiliza 3.000 livros para download
As obras estão no endereço www.brasiliana.usp.br.
Entre os títulos, estão livros raros, documentos históricos, manuscritos e imagens que são parte do acervo da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, doada à universidade.
Há planos de aumentar o catálogo para 25 mil títulos e incluir primeiras edições de Machado de Assis e de Hans Staden.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
Com a palavra...
USP: diálogo ou monólogo?
CAIO VASCONCELLOS e ILAN LAPYDA
A reitoria fechou os canais de negociação. Isso expressa seu caráter autoritário e é coerente com a estrutura de poder da USP, infelizmente
APÓS MAIS de uma semana de presença da Polícia Militar no campus da USP, a política repressiva da reitora Suely Vilela culminou na batalha campal de 9 de junho.
O conflito que se deu depois do fim da manifestação pela retirada da PM não se limitou ao portão principal, mas se estendeu até a parte central do campus, algo que não se via desde a ditadura militar: bombas de gás e de concussão, balas de borracha, prisões e um saldo de policiais, estudantes, professores e funcionários agredidos e feridos. É fundamental, pois, avançarmos no debate sobre a questão.
A reitoria fechou os canais de negociação com os movimentos da USP, deslegitimando a política como esfera de solução de conflitos e recorrendo a uma força externa de repressão.
Essa opção, que expressa seu caráter autoritário, infelizmente coerente com a estrutura de poder da USP, possui a especificidade de ser uma reação às atuais pressões externas e internas por democracia.
A USP tem enorme concentração de poder: apenas os professores titulares são elegíveis ao cargo de reitor, e este é eleito praticamente só por professores titulares. O colégio eleitoral do segundo turno, que de fato elege o reitor, restringe-se a cerca de 300 membros, dos quais 85% são professores (desses, mais de 90% são titulares), menos de 15% estudantes e apenas 1% funcionários.
Além disso, os membros do Conselho Universitário, instância máxima de decisão da USP e presidido pelo reitor, são em sua maioria professores titulares (cerca de 75%), muitos dos quais diretores de unidade -e, portanto, escolhidos pela reitoria.
As decisões mais importantes da universidade ficam concentradas nas mãos desses professores, que, segundo dados da USP, somam menos de 1% da comunidade universitária.
São números que relativizam as críticas de quem questiona a legitimidade das assembleias da Adusp (Associação dos Docentes da USP), do Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP) e do movimento estudantil para se furtar ao debate político.
Além do fator estrutural, há um movimento crescente de autoritarismo que torna mais opacas as decisões políticas na USP.
Desde maio de 2008, as reuniões do Conselho Universitário não têm ocorrido em seu devido local, no prédio da reitoria, mas no Ipen (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares), área com proteção militar e não pertencente à USP.
Ao todo, cinco reuniões foram realizadas no Ipen. Em duas delas, os representantes estudantis e dos funcionários não foram avisados da mudança de local, o que resultou na aprovação do orçamento para 2009 e na reforma do estatuto da USP sem as suas presenças, além de outros graves problemas procedimentais na votação.
Tais ilegalidades estão sendo contestadas na Justiça, por meio de um mandado de segurança articulado pela Associação dos Pós-Graduandos da USP-Capital e impetrado por alguns representantes discentes (processo 053.09.012697-4). Ou seja, estamos "explorando a legislação vigente", ao contrário do que sugeriu o professor José Arthur Giannotti neste espaço na última quinta-feira.
Fatos dessa gravidade, aliados a outras formas de obstrução da já reduzida participação dos representantes discentes (RDs) nos conselhos decisórios, explicitam o que são as "vias institucionais" da USP.
Além de dispensar tratamento de segunda classe aos RDs, a Secretaria-Geral da USP, desde o início do ano e após seis pedidos formais de homologação, recusa-se a empossar os representantes da pós-graduação, baseando-se em uma nova interpretação "sui generis" e descabida do regimento interno da universidade.
Assim, depreende-se facilmente a falácia do conceito da reitora de "diálogo" e "convivência social pacífica".
Não seria a reitora, bem como o grupo do Conselho Universitário que legitima suas medidas por meio de "resoluções", o pivô da violência e da violação -das instituições, da democracia e da política-, ao se esconder em área militarizada e militarizando o campus para não se abrir ao debate?
Como a reitora, com a conivência da maior parte do Conselho Universitário, orquestra votação de temas fundamentais impedindo a presença da representação estudantil?
O atual clima de horror é incompatível com as funções de reflexão crítica e produção científica independente. A USP deveria ser o espaço do diálogo efetivo, e é ele que deve mediar os legítimos conflitos políticos.
Se a democracia está travada e a violência parte da reitoria, ao se furtar ao debate e recorrer à repressão policial, fica claro que Suely Vilela não possui condições nem competência de se manter no cargo e que a atual estrutura de poder tem de ser radicalmente transformada.
CAIO VASCONCELLOS, 27, e ILAN LAPYDA, 25, formados em ciências sociais, são mestrandos em sociologia na USP e coordenadores da Associação de Pós-Graduandos da USP-Capital, que ratifica este texto.
USP - Reflexões
“A ação imediata é apenas um episódio, o importante são as redefinições a partir disso”
“Atuem, exagerem, sejam justos e injustos. Aproximem a faculdade da realidade social. Essa é uma luta constante, para transformar a sociedade.”
Antonio Candido
PM na USP é atentado, diz Antonio Candido
"Estou aqui por uma simples razão: para fazer um protesto veemente contra a intervenção da força policial no campus universitário. [Isso] é um atentado aos direitos mais sagrados que as pessoas têm de discutir, debater e agir sem nenhuma pressão do poder público."
Antonio Candido, 90
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Dos idos de 63!
PM neles!
Fonte: Elio Gaspari, Folha de São Paulo, ontem
O governador José Serra e seus sábios tucanos, bem como a reitora da USP, Suely Vilela, deveriam conversar com o professor Aloisio Teixeira, reitor da UFRJ. Ele recebeu uma universidade conflagrada, pacificou professores e estudantes e deixou a polícia de fora.
Serra e a doutora Suely fazem o caminho oposto. Militarizam a controvérsia e jogam os moderados no colo dos aparelhos.
Pode ser que haja na USP garotos (e professores) convencidos de que a democracia representativa é uma "máscara para acobertar a submissão do Brasil ao imperialismo". É besteira, mas é besteira velha, dita em 1963 pelo governador que acionou a PM, quando assumiu a presidência da UNE.
sexta-feira, 12 de junho de 2009
Conflito na USP - 1
Mais duas opiniões sobre o Conflitos na USP. A primeiro do Professor Vladimir Safatle, que foi publicada hoje na Folha de São Paulo, Tendências e Debates (e digo de antemão, muito bem escrito) e outra, uma pequena entrevista do professor emérito da USP, Chico de Oliveira comentando o porque a reitora deve renunciar, depois do ocorrido.
A universidade não é caso de polícia
VLADIMIR SAFATLE
“Em vez de estigmatizar os alunos e tratá-los como delinquentes, talvez seja o caso de se perguntar contra o que eles se manifestam”
AS CENAS de batalha campal que vimos nesta semana na USP ficarão na memória daqueles que dedicam sua vida a essa instituição. Vários professores, como eu, que nunca participaram de movimento sindical, que nem sequer foram alguma vez a uma assembleia, veem com estarrecimento a disseminação da crença de que conflitos trabalhistas devem ser resolvidos apelando sistematicamente à polícia.
Diz-se que a polícia era necessária para evitar piquetes e degradações. No entanto, tudo o que ela conseguiu foi acirrar os ânimos e aumentar exponencialmente os dois.
Vale a pena lembrar que, por mais que sejam práticas problemáticas que precisam certamente ser revistas, os piquetes estão longe de se configurarem como ações criminosas. A história das sociedades democráticas demonstra como eles foram, em muitos casos, peças necessárias de um processo de ampliação de direitos. Cabe a nós provar que esse tempo passou e que, devido à capacidade de diálogo, tais práticas não têm mais lugar.
No entanto, quando se tenta reduzir manifestantes que procuram melhorias em suas condições de trabalho a tresloucados patológicos que nada têm a dizer, que não têm nenhuma racionalidade em suas demandas, dificilmente alguma forma de diálogo conseguirá se impor.
Melhor seria começar explicando qual racionalidade justifica que a universidade mais importante do país, responsável por parte significativa da pesquisa nacional, tenha salários menores que os de uma universidade federal em qualquer Estado brasileiro.
Por outro lado, há algo incompreensível na crença de que a polícia possa ser chamada para mediar conflitos com alunos e funcionários públicos. Muitos acreditam que ligarão para o 190 e receberão uma espécie de "polícia inglesa" capaz de agir de maneira minimamente adequada diante de cidadãos que se manifestam.
Contudo, o que vimos até agora foi uma polícia que entrou pela primeira vez no campus armada com metralhadoras, quando a ação padrão deveria ser, nessas situações, agir desarmada. Quem tem uma metralhadora nas mãos imagina que porventura poderá usá-la. Mas contra quem? Contra nossos alunos? E quem decidirá o momento de usá-la?
Como se isso não bastasse, uma polícia bem preparada não responde a provocações de gritos e latas com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha usadas na frente da Escola de Aplicação e de uma faculdade em que, normalmente, há crianças e adolescentes. O que aconteceria se uma bala de borracha atingisse uma criança, ampliando um pouco mais o enorme contingente de balas perdidas disparadas pela polícia?
Antes de ligar para a Polícia Militar, valeria a pena levar em conta seu despreparo manifesto em intervenções em conflitos sociais, histórico catastrófico mundialmente criticado por órgãos internacionais.
Nenhum leitor terá dificuldade de se lembrar de situações de conflito social nas quais policiais que se sentiram acuados reagiram de maneira descontrolada, provocando tragédias.
Por fim, contrariamente a certa ideia que um anti-intelectualismo militante gosta de veicular nestes momentos, vários alunos alvos de balas de borracha são extremamente dedicados em seus cursos, participam sistematicamente de colóquios e programas de pesquisa, apresentam "papers" em congressos e podem ser constantemente encontrados em nossas bibliotecas.
Sendo certo que vêm de todas as faculdades de nossa universidade (e não apenas da área de humanas, como alguns querem fazer acreditar), é inaceitável tratá-los como delinquentes potenciais. Dentre os 2.000 estudantes que se manifestaram nesta semana estão alguns de nossos melhores alunos.
Em vez de estigmatizá-los, talvez seja o caso de se perguntar contra o que eles se manifestam, já que, é sempre bom lembrar, antes da entrada da polícia, nem professores nem alunos estavam em greve. A greve restringia-se a funcionários.
Há um mês, em uma pequena cidade francesa, a polícia recebeu um chamado de possível furto. Em uma atuação "exemplar", ela estava em alguns minutos no local do crime. No entanto, o local era uma escola, o objeto furtado, uma bicicleta, e o possível ladrão, uma criança de dez anos. Sem pestanejar, a polícia retirou a criança da escola na frente de seus colegas, levou-a à delegacia, colheu seu depoimento e a fichou.
Possivelmente, foi contra esse modelo social baseado na incapacidade de resolver conflitos sem apelar à mais crassa brutalidade securitária que hoje nossos alunos se manifestam. Cabe a nós mostrar a eles que a história da USP é outra.
VLADIMIR SAFATLE, 36, é professor do Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo.
Reitora deve renunciar, diz Chico de Oliveira
Fonte: Folha de São Paulo, ontem
O confronto entre PMs e alunos na USP foi causado por uma crise estrutural que vem se agravando e por inabilidade da reitora Suely Vilela, afirma o professor emérito da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) Chico de Oliveira. Oliveira, que é sociólogo, defende que a reitora renuncie ao cargo.
FOLHA - Como o sr. analisa a situação na USP?
CHICO DE OLIVEIRA - O confronto é sinal de decadência das instituições. Uma reitora que chama a polícia, que não sabe administrar conflito de interesses, é mau sinal. A universidade é muito complexa, com uma reitora que acha que solucionar os problemas é fácil. Ela não sabe exatamente o que é a Universidade de São Paulo. Passou a vida num campus no interior [Ribeirão Preto]. Sem nenhum tom depreciativo, mas é um campus restrito. Isso seria relevado se houvesse instituições mais capacitadas na USP. Mas não há, é uma crise geral de representatividade, o sindicato dos professores, por exemplo, é fraco. Não há com quem negociar. O que os funcionários e alunos estavam fazendo que justificaria a presença da polícia? Era um conflito elementar, que vai ocorrer permanentemente. Se o único remédio é chamar a polícia, já cria um destacamento especial dentro da USP. O que estavam fazendo dois helicópteros da PM em cima da Cidade Universitária [no dia do confronto]? É uma grande decadência institucional.
FOLHA - Mas não há uma questão legal? A reitora não tem de zelar pelo patrimônio?
OLIVEIRA - Isso é piada. O que havia era grevista fazendo piquete. É um direito. Acho que a reitora deveria renunciar. É a segunda grande crise, num mandato de quatro anos.
FOLHA - Como o sr. avalia o movimento grevista?
OLIVEIRA - É basicamente de funcionários. Os professores foram quase obrigados a entrar depois dos atos da reitora [após a entrada da polícia na Cidade Universitária].
FOLHA - Como fica a imagem da USP após o confronto?
OLIVEIRA - A universidade passa uma imagem de desleixo, de despreparo. O que não é verdade. A estatística mostra que cresce o número de doutores no país, por meio do trabalho das universidades, inclusive a USP.
Isso mesmo com a falta de condições. A ciências sociais, por exemplo, não tem um auditório decente. E é uma área que vive da palavra.
Conflitos na USP
Um pitaquinho sobre o que esta acontecendo com a USP. Primeiro, a USP a muito tempo deixo de ser um centro de excelência no que diz respeito ao ensino, infelizmente. Segundo o direito à GREVE nos é garantida por lei, só que isso não quer dizer que podemos aceitar o que os manifestantes estão fazendo....esta onda de se invadir reitorias e ficar por lá acampados (algo que se todo até que certo ponto rotineiro), cá entre nos é uma babaquice imensa. Reitero que, concordo com a pauta de negociações dos grevistas, mas que seja usada a inteligência e não a força bruta.
Abaixo dois textos que saiu no caderno Tendências e Debates da Folha de São Paulo, no dia de ontem, o primeiro assinado pela professora Suely Vilela, reitona da USP e o segundo assinado pelo professor Jose Arthur Giannoti no qual eles dão as suas versões do ocorrido.
Conflitos na USP: nem tudo são flores
SUELY VILELA
"A defesa dos princípios democráticos não exclui, ao contrário, impõe a manutenção da lei e da ordem na universidade"
A COMUNIDADE universitária e a opinião pública têm acompanhado os acontecimentos recentes na Universidade de São Paulo.
A USP, nos seus 75 anos de existência, evoluiu significativamente no ensino, na pesquisa e nas atividades de cultura e extensão, mas ainda há muito por fazer para melhorar o desempenho da universidade.
Quero reconhecer, publicamente, que a maioria dos docentes, funcionários e estudantes demonstra seu comprometimento em corresponder às expectativas da sociedade, o que se pode constatar, também, no presente conflito. A quase totalidade da nossa comunidade acadêmica mantém suas atividades regulares, a despeito das tensões e dos constrangimentos a que vem sendo submetida, além das agressões aos órgãos da administração central.
Lamentavelmente, minorias radicais pretendem manter a universidade refém de suas ideias e métodos de ação política, fazendo uso sistemático da violência para alcançar seus fins.
Há 20 anos um mesmo grupo de militantes políticos profissionais domina alguns movimentos na USP.
Durante esse período, tais militantes têm atuado sistematicamente do mesmo modo. Fazem-no mediante script conhecidíssimo e que se repete a cada período anual de negociações salariais.
O enredo se inicia com uma pauta imensa de reivindicações e, em seguida, mobiliza-se em torno dela reduzido, mas aguerrido, grupo de colegas -preferencialmente nos órgãos de apoio da reitoria -, para então decidir entre eles mesmos por greve, não raro deflagrada antes mesmo do início das negociações.
Piquetes nas portas dos edifícios e até seu fechamento com correntes e cadeados, sem falar nas depredações do patrimônio público, compõem o cenário com o qual a USP é confrontada nessas oportunidades. Organizações sindicais, movimentos reivindicatórios e o direito à greve para servidores públicos compõem, ao lado de outras instituições e formas de manifestação, a cena política típica das sociedades democráticas e, por isso, é imperativo que sejam reconhecidos e protegidos pela Constituição Federal e respeitados em nosso ambiente universitário.
Porém, o que quero destacar no presente episódio é o repúdio da ampla maioria a comportamentos que, rotineiramente, configuram a violação de preceitos fundamentais de sociedades democráticas, tais como a tolerância, o diálogo e a convivência social pacífica, além do respeito aos direitos individuais e coletivos, como o livre acesso aos locais de trabalho.
O fato é que devemos reconhecer que ainda não encontramos os meios adequados para enfrentar esse grave problema. Alguns de nós se dedicam ao estudo da crescente violência na sociedade brasileira atual e avançamos muito na compreensão desse fenômeno.
Tudo indica, entretanto, que, de modo geral, intelectuais e cientistas têm dificuldades em lidar com a violência quando esta se expressa no âmbito dos conflitos políticos e, especialmente, em eventos nos quais estamos diretamente envolvidos.
Há tempos que diversas manifestações do público externo e, sobretudo, da comunidade uspiana expressam claramente o desejo de que a reitoria adote providências enérgicas visando coibir esse comportamento das minorias radicais da universidade.
Por essa razão, solicitei, e foi deferida na Justiça, a reintegração de posse dos edifícios com acessos bloqueados. O descumprimento dessa decisão judicial motivou a presença da Polícia Militar nesses locais.
A persistência dos piquetes exigiu, por parte das forças policiais, a continuidade das suas ações, visando a assegurar o livre trânsito e a integridade das pessoas e do patrimônio público.
Esse ambiente de crescente tensão culminou nos lamentáveis episódios da última terça-feira, quando reduzido grupo de ativistas presentes na manifestação, que se desenvolvia pacificamente, decidiu partir para provocações seguidas do confronto físico com os policiais.
As medidas recentes adotadas pela reitoria para enfrentar o problema representam clara inflexão diante de experiências anteriores, pois procuram combinar adequadamente o respeito aos direitos constituídos e o rigor na aplicação do arcabouço legal de que dispõem as autoridades universitárias para atuar nesses casos.
Enfim, quero reafirmar que a defesa dos princípios democráticos -e, nesse caso, a nossa disposição para o diálogo e a negociação- não exclui, ao contrário, impõe a manutenção da lei e da ordem na nossa universidade.
SUELY VILELA , 55, é reitora da USP e professora titular da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto.
USP: faz de conta e violência
JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI
“Nos últimos anos, cresceu a violência nas universidades, assim como o descrédito das lideranças. O que fazer para evitar o desastre?“
MESMO QUANDO um professor chama a polícia para combater alunos desordeiros, ele simplesmente abdica de sua tarefa de professor; trata-os como se fossem transgressores, esquecendo que precisam ser educados.
Porém, tendo os estudantes se associado a grupos baderneiros, não cabia à reitora chamar a polícia para garantir o patrimônio público?
Se, entretanto, a reitora pode ter razão nesse ponto, cabe examinar como se chegou a essa crise em que ela deixa de ser professora para vestir o uniforme da repressão.
Na tarde de terça-feira, estudantes, funcionários e professores se manifestavam contra a presença da polícia no campus. Alguns extravasaram os limites do bom senso, acuando a polícia, que, reforçada, reagiu com violência. Felizmente só houve feridos.
Fora os esquentados de sempre, sobretudo o pessoal da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Sociais) e da ECA (Escola de Comunicações e Artes), o resto da universidade funcionava normalmente, mantendo o curso das atividades costumeiras. Total esquizofrenia. Como todos não se mobilizaram para impedir a barbaridade do conflito?
É evidente que as lideranças atuais perderam qualquer legitimidade. Reiteradamente no mês de maio começam as negociações para reposição salarial e outras reivindicações.
O orçamento das três universidades paulistas está bloqueado, sobretudo porque, durante a negociação da autonomia universitária, não se criou um fundo de pensão responsável pelo pagamento dos aposentados. Hoje, eles representam por volta de 30% do orçamento da USP, que, segundo última informação, teria chegado a gastar 85% com pessoal. Obviamente o restante não basta para tocar uma universidade. A USP estaria falida se não fosse a Fapesp.
A falta de recursos disponíveis leva ao impasse. O sindicato de funcionários decreta a greve, algumas unidades diminuem suas atividades, a biblioteca, o "bandejão", a creche e os ônibus circulares param (a greve parece ser contra os estudantes pobres).
A maioria, no entanto, continua trabalhando como se nada estivesse acontecendo.
Em geral, as lideranças dos professores e dos alunos acabam aderindo.
Na base de reivindicações abstratas, a greve se resume a uma triste encenação. Depois de algumas escaramuças, as partes cedem, obviamente sem ônus para os grevistas. Terminada a greve, eles fazem de conta que repõem as atividades retidas.
A repetição desse ritual não causaria grandes danos se não abrisse cunhas para a violência. Durante a greve, prédios são ocupados, o patrimônio passa a ser depredado e grupos entram em choque. Até onde vai esse apodrecimento?
A indiferença da maioria dos atores termina criando espaço para os ditos "radicais". São aqueles que acreditam piamente que, dado o caráter repressor do aparelho do Estado, devem mudar, mediante violência, a universidade e o país.
Em vez de explorarem as ambiguidades da legislação vigente para mobilizar a sociedade civil visando forçar mudanças nas leis pelas leis, simplesmente se tomam como agentes sem compromissos com a legalidade. Consideram legítima sua violência e espúria qualquer reação.
Já que a maioria dos universitários não embarca nesses enganos -eles não se confundem com a sociedade nem acreditam que, no mundo de hoje, uma crise no Estado de Direito pode aprofundar a democracia-, os ditos radicais se isolam de seus representados, transformando uma possível violência política numa simples ação criminosa.
Nos últimos anos, cresceu a violência nas três universidades públicas paulistas, assim como aumentou o descrédito das lideranças. O que fazer para evitar o desastre?
Não sejamos ingênuos: passada a agitação presente, tudo voltará ao "normal" antigo. A não ser que professores, estudantes e funcionários se mobilizem e assumam a dualidade de suas funções sociais.
Se, de um lado, devem ser bons profissionais, de outro, não podem ignorar suas responsabilidades políticas, inclusive bloquear a burocracia para que possam agir por inteiro.
Repensar as pautas fantasiosas que têm marcado as últimas reivindicações é a tarefa mais elementar. No final das contas, que universidade queremos?
JOSÉ ARTHUR GIANNOTTI , filósofo, é professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP e pesquisador do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). É autor, entre outras obras, de "Certa Herança Marxista".
quarta-feira, 3 de junho de 2009
Sucesso no metrô, bibliotecas chegam às estações da CPTM
No Estado de São Paulo de hoje
Sucesso no metrô, bibliotecas chegam às estações da CPTM
Projeto criado e mantido por ONG já promoveu 443 mil empréstimos de obras em 5 anos
Fonte: Estado
A ideia era que o cidadão tropeçasse nos livros. E, assim, o Brasil se tornasse um pouco mais leitor. Começou, em setembro de 2004, com uma biblioteca de pouco mais de 2 mil títulos na Estação Paraíso do Metrô de São Paulo. O nome do projeto - Embarque na Leitura - soou como um convite, atendido por um bom número de usuários do transporte público. Depois de se espalhar por outras quatro estações da cidade - Tatuapé, Luz, Largo 13 e Santa Cecília -, e também por duas cariocas, uma recifense e uma porto-alegrense, os livros ganharam ontem outro endereço: a Estação Brás da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM).
Entrevista com William Nacked e lista de livros mais procurados
"É a primeira biblioteca brasileira em uma estação de trem", afirma o diretor do Instituto Brasil Leitor, William Nacked. A organização social, com 211 funcionários, é a responsável pela criação, instalação e gerência do projeto.
Com acervo inicial de cerca de 2 mil livros de diversos gêneros - literatura, filosofia, religião, artes, história, autoajuda -, a biblioteca deve se aproveitar do grande movimento da estação, por onde circulam, todos os dias, 450 mil pessoas. "É um polo de grande volume", concorda Nacked. Ele conta que ainda não tinha planos de expandir o projeto para outras estações da CPTM. "Mas fui intimado hoje (ontem) mesmo e acertamos que haverá unidades nas Estações Itaim Paulista e Osasco, já no segundo semestre", promete Nacked.
O presidente da CPTM, Sérgio Avelleda, diz acreditar que a "disseminação da cultura" é um compromisso da companhia. "Nossa prioridade, evidentemente, é o transporte. Mas temos espaço para outras políticas públicas", explica. "Faz muito tempo que queríamos agregar à CPTM esse projeto que faz tanto sucesso no Metrô."
Desde que começou, há cinco anos, o Embarque na Leitura atraiu 36 mil leitores cadastrados, com 345 mil empréstimos de livros, só em São Paulo. Considerando as estações de outras capitais brasileiras, são 42 mil leitores e 443 mil empréstimos. E quem acha que muita gente empresta e não devolve está enganado. O índice de não-devolução é de apenas 0,24%.
EXPANSÃO
Nacked revela que já há discussões adiantadas com a São Paulo Transporte (SPTrans) para que, em breve, dois terminais de ônibus da cidade também tenham suas bibliotecas. "Precisamos estar em lugares por onde as pessoas passam regularmente", explica o diretor do projeto. "Só assim elas vão “tropeçar” nos livros."