quinta-feira, 28 de maio de 2009

Bibliotecas dão nova fama a Bogotá

Pegando gancho da palestra que o “Consulado da Colômbia e o Instituto Cervantes de São Paulo” irão patrocinar, abaixo uma matéria que saiu a quase 3 anos no Caderno Ilustrada da Folha de São Paulo que trata sobre a titulo que a UNESCO deu a Colômbia por seu apoio à leitura e como as bibliotecas fazem parte deste processo.

Bibliotecas dão nova fama a Bogotá

Com 2 milhões de livros, o principal centro do país tem mais visitantes do que Masp, Pinacoteca e Mário de Andrade juntos

Com outros projetos na área e grandes bibliotecas em construção, capital da Colômbia recebe título da Unesco por apoio à leitura

Fonte: Folha, 11 jul. 2006

Com 2,7 milhões de visitantes por ano, a Biblioteca Luis Ángel Arango, em Bogotá, é uma das mais visitadas do mundo. Recebe, em média, 9.000 pessoas diariamente. É mais do que a soma de visitantes de Masp (Museu de Arte Moderna de São Paulo), Biblioteca Mário de Andrade e Pinacoteca juntos por dia.

Mantida pelo Banco Central do país, ela tem 2 milhões de livros e capacidade para 2.000 leitores sentados. Nos últimos anos, a BLAA fez escola: a prefeitura local construiu outras megabibliotecas pela cidade e criou diversos programas de leitura que visam formar leitores em massa.

Tal empenho recebeu reconhecimento da comunidade internacional. A Unesco escolheu Bogotá como a primeira cidade latino-americana a ser Capital Mundial do Livro, título que ostentará em 2007. A Fundação Bill e Melinda Gates doou US$ 1 milhão para a rede municipal de bibliotecas e colabora com equipamentos tecnológicos para os centros.

Em visita recente a São Paulo, convidada pela Secretaria Municipal de Relações Internacionais, a diretora da BLAA, Ángela Pérez Mejía, esteve em São Paulo para falar de como as bibliotecas transformaram Bogotá e começam a mudar um país associado à guerrilha, narcotráfico e violência. Em palestra na Biblioteca Mário de Andrade, que passa por processo de modernização, Pérez Mejía falou que a capital colombiana deve muito aos novos espaços de convivência com livros.

Uma rede de ciclovias, de 300 quilômetros de extensão, e o sistema de ônibus articulados, em corredores, servem todas as grandes bibliotecas. "As bibliotecas ditaram os rumos do transporte público", diz Pérez. Alguns dos maiores arquitetos colombianos trabalharam na criação das três novas megabibliotecas, como a Virgilio Barco, desenhada por Rogelio Salmona, e a El Tunal, adaptando antiga usina de tratamento de lixo, por Daniel Bermúdez.

Atualmente está em construção a quarta megabiblioteca municipal, na periferia de Bogotá, graças à doação de US$ 12 milhões feita pela família Santodomingo, a mais rica do país. Será inaugurada em 2008.

Livros ao vento

Um dos projetos que envolveu toda a cidade, além do numeroso público que freqüenta as bibliotecas, é o "Livros ao Vento". A prefeitura local lança 70 mil exemplares, por edição, em versões de bolso de clássicos de Cortázar, García Márquez, Allan Poe, Tchecov, entre outros, e os distribui nos pontos de ônibus, gratuitamente. Na contracapa, um pedido: que ao terminar a leitura, o livro seja passado para outra pessoa ou deixado em outro lugar público. "Deixe que este livro voe."

Outro projeto municipal utiliza postos de leitura, como estantes desmontáveis, que são instalados nos parques da cidade, com 300 livros cada um.

O interesse pelo livro também cresceu para além da capital colombiana. No interior, em plena floresta amazônica, existem os "biblioburros", onde agentes culturais levam coleções ao lombo de burrinhos para emprestar livros nas localidades mais distantes. Também foram criadas pelo governo bibliotecas indígenas.

"Livros são um refúgio contra a violência"

Fonte: Folha, 11 jul. 2006

A professora de literatura e cinema latino-americanos Ángela Pérez Mejía, que foi professora da Universidade Brandeis, em Boston, dirige a Biblioteca Luis Ángel Arango, a mais freqüentada da América Latina. Dependem da BLAA outras 16 bibliotecas pela Colômbia, mais uma sala de concertos, um museu numismático e a Coleção Botero, doada pelo famoso pintor colombiano, com quadros de Picasso, Klee, Bacon e Miró, entre outros, colecionados pelo mestre dos gordinhos nas últimas quatro décadas. Em entrevista à Folha, Pérez fala dos porquês de Bogotá se tornar um símbolo da democratização da leitura. (RJL)   

FOLHA - A senhora sente que as bibliotecas podem mudar a imagem da Colômbia, tão associada à violência?

ÁNGELA PÉREZ MEJÍA - Não tenho provas científicas, mas não tenho dúvidas de que as bibliotecas ajudaram a mudar Bogotá. Nós, colombianos, temos vergonha de ser olhados no mundo como um país violento. Onde o futuro é tão incerto, a literatura vira um refúgio contra a violência, ela te oferece espaços para pensar que você pode mudar seu país. Nós nascemos na escassez, somos um país pobre. E nos surpreendemos em como a cultura pode mudar nossa realidade.

FOLHA - Em São Paulo, os grandes centros de convivência são os shoppings. A senhora falou que, em Bogotá, os shoppings não conseguem tirar público das bibliotecas. Como é possível?

PÉREZ - O espaço público em Bogotá é precário. As bibliotecas foram pensadas como espaço público comunitário. A arquitetura não é apenas para ler, é para se encontrar. Há muita luz, muito lugar confortável para ler. Pensamos em comunidades, não em indivíduos. É diferente das bibliotecas americanas. Claro que temos espaços silenciosos para estudar, mas queremos espaços que promovam encontros. Investimos em arquitetura de qualidade, prédios que dão status ao ato de ler. Não são de portas fechadas. Elas são cercadas por espaços culturais, com que dialogam.

FOLHA - No Brasil, bibliotecas públicas são mais usadas para trabalhos escolares. Como transformá-las em centros culturais?

PÉREZ - Nosso objetivo tem sido de desescolarizá-las. Ler não porque é obrigação, mas pelo prazer, porque ler é divertido. Há programação de arte, de música. Bibliotecas sem orçamento para renovar suas coleções ou que respondem às necessidades de seus leitores perdem público. Quando há espaços públicos bons, as pessoas vão. Visitei o Centro Cultural São Paulo e estava cheio.

FOLHA - A BLAA foi fundada em 1958. Mas só nos últimos anos houve essa febre pelos livros. Quando houve a mudança?

PÉREZ - O país passou por programas de alfabetização muito bem-sucedidos nas últimas décadas. Temos 5% de analfabetos, um dos menores índices da região. Mas a resposta à mudança se chama continuidade. Não há políticas culturais que funcionem a curto prazo. O Banco de la República, que mantém a BLAA, é constante em seus investimentos e criou um público fiel. Sou a quarta diretora da BLAA, que tem 48 anos de existência. Meus antecessores ficaram, em média, mais de 15 anos no cargo.

Os governos municipais mantiveram a prioridade das bibliotecas nos últimos 12 anos, mesmo com prefeitos de partidos diferentes.

A BLAA, que não é municipal, colaborou para essa mudança, dando consultoria aos diferentes governos. Forças politicas distintas têm se unido em torno das bibliotecas do país.

As Bibliotecas Públicas na Colômbia

O Consulado da Colômbia e o Instituto Cervantes de São Paulo convidam para a palestra

As Bibliotecas Públicas na Colômbia

Palestrante: Lucila Martínez

Data: 03/06/2009

Local: Auditorio do Instituto Cervantes

Av. Paulista, 2439 Térreo

Bela Vista

Os interessados devem mandar um e-mail com nome, número de telefone e entidade para bibx1sao@cervantes.es

(lotação máxima do auditório: 100 pessoas)

terça-feira, 26 de maio de 2009

O Livro

“Dentre os instrumentos inventados pelo homem, o mais impressionante é, sem dúvida, o livro. Os demais são extensões de seu corpo. O microscópio e o telescópio são extensões da visão; o telefone uma extensão da voz e finalmente temos o arado e a espada, ambos extensões do braço. O livro, porém, é outra coisa. O livro é uma extensão da memória e da imaginação. Em César e Cleópatra de Shaw, quando se fala sobre a biblioteca de Alexandria , os livros são descritos como a memória da humanidade. O livro é isto e muito mais, é também a imaginação. O que é o nosso passado senão uma série de sonhos? Afinal que diferença pode haver entre recordar sonhos e recordar o passado? A função do livro é recordar.”

Jorge Luiz Borges

Biblioteca Brasiliana

São Paulo ganha Biblioteca Brasiliana

São Paulo vai ganhar uma nova biblioteca, enorme e diferente de todas as outras. São 17 mil títulos, todos sobre o Brasil ou feitos no Brasil.

Fonte: SPTV

A Biblioteca Brasiliana está sendo construída na Cidade Universitária, perto do prédio da reitoria. Os livros foram doados à USP pelo empresário José Mindlin, que hoje tem 94 anos de idade.

Ele passou a vida colecionando livros raros. A biblioteca deve ser inaugurada em dois mil e dez, e poderá ser acessada pela internet.

É em um vazio moldado a ferro, onde ainda o concreto escorre, que caberá o conhecimento. A biblioteca por enquanto é toda imaginação. “São três andares de livros. Todas as paredes com toda coleção exposta. A ideia é que a gente tivesse sempre o visitante em contato com o acervo”, explica o arquiteto Rodrigo Mindlin Loeb.

Este será o corpo da Brasiliana. A alma da Brasiliana ainda está bem longe; na casa de José Mindlin, no espaço especialmente construído, ao lado do jardim, para abrigar a biblioteca dele com quase 100 mil volumes.

É uma sala de preciosidades e raridades. Os livros são do século 19, de literatura brasileira. Lá, estão quase todas as primeiras edições dos livros de Machado de Assis. Há as primeiras edições dos dois romances mais lidos no século 19: “O guarani”, de José de Alencar e “A moreninha”, de Joaquim Manuel de Macedo.

Ao pé da escada fica Santo Inácio, um verdadeiro santo do pau-oco. No espaço de trás escondiam o ouro para escapar ao fisco dos portugueses. É neste espaço da memória e do passado que vive um novo agregado: um robô do século 21, um devorador de livros, que lê 2,4 mil páginas por hora.

“O usuário vai ver o livro tal como ele é: a imagem do livro original, mas por trás dessa imagem há uma versão digitalizada, como se fosse transcrito. O usuário pode fazer busca por palavra, frase, iluminar trecho, copiar e colar. A pessoa vai poder imprimir em casa, encadernar e colocar na sua estante”, antecipa o coordenador da Brasiliana digital Pedro Puntoni.

O robô reconhece 120 línguas. Até o final do ano o plano é que ele tenha digitalizado quatro mil livros e 30 mil imagens.

Os primeiros livros que já estão sendo digitalizados são os dos viajantes que percorreram o Brasil nos séculos 16, 17, 18 e 19. Toda a coleção das gravuras de Debret. Depois disso será a vez de todos os livros de história do Brasil e literatura brasileira.

“Era um sonho, no meio de muitos outros, era sim”, diz o bibliófilo José Mindlin.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

De forma didática, José Mindlin abre sua famosa biblioteca

De forma didática, José Mindlin abre sua famosa biblioteca

Duílio Gomes*, JB Online

Há quem colecione tumbas egípcias milenares, como a artista plástica Yoko Ono, e quem faça coleção de livros raros, como José Mindlin.

Colecionar, não importa o que seja, é uma paixão antiga como o mundo e quem se dá a esse hábito (muitas vezes dispendioso) gasta mais da metade de sua vida à procura dos objetos de seu desejo e nunca se sacia.

No recém lançado No mundo dos livros (Agir. 104 páginas. R$ 29,90), o empresário paulista José Mindlin, de 95 anos, conta um pouco de sua experiência como colecionador de livros. Ao contrário do seu Uma vida entre livros, em que detalha suas garimpagens em livrarias brasileiras e estrangeiras à procura de edições raríssimas – algumas com mais de 500 anos de publicação – em No mundo dos livros ele fica exclusivamente no campo didático e, em 108 curtas mas saborosas páginas, faz comentários sobre títulos, raros ou não, escritores e a função social da literatura. Assim, após discorrer sobre a primeira Bíblia editada por Gutemberg em 1455, constata que a produção de livros está ligada intimamente à alfabetização e que, nos 300 anos do Brasil Colônia, o analfabetismo era um fato estarrecedor. “Ainda hoje”, espanta-se ele, “embora tenha crescido a alfabetização, parte dela é muito precária. ssa situação é causa e efeito de exclusão social”.

No mundo dos livros vem enriquecido com um álbum de fotos mostrando algumas relíquias da biblioeca de 40 mil obras do empresário, muitas delas, apesar de centenárias, absolutamente bem conservadas graças ao empenho de Guita, mulher do bibliófilo, que estudou conservação e restauro na Europa.

“Quem não lê, não sabe o que está perdendo”, ensina Mindlin, provando, depois, que a leitura dá, à vida, um sentido espiritual, abrindo horizontes e estimulando, ao mesmo tempo, a imaginação e o sonho. Depois disso fica mais fácil entender a grandeza de autores por ele citados, como Xavier de Maistre, Alexandre Dumas, Romain Roland, Montesquieu, Proust, Balzac, Dostoievski e os nossos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, Bandeira, João Cabral, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Nélida Piñon e Graciliano Ramos.

Formado em direito pela Universidade de São Paulo, José Mindlin foi também jornalista no Estado de S. Paulo, e criou a Metal Leve, uma das grandes empresas do setor de peças automotivas do país. Em 1999 foi eleito para a Academia Paulista de Letras e em 2006 ingressou na Academia Brasileira de Letras.

“Quem lê, reivindica”. Esta é, no final do volume, outra lição-provocação do autor que, ao falar sobre a força política do livro, tece comentários virulentos sobre a censura em tempos de arbítrio e o temor que os governos arbitrários têm dos livros. Queimá-los em praça pública é a solução mais comum e covarde que tais governos de exceção encontram para ficar livres de “idéias avançadas”. A Igreja Católica, com o seu Index Librorum Prohibitorum, deixou claro também que o livro tem poderes insuspeitados e pode fazer, de uma inocente beata, uma líder de passeata. Com o punho erguido, claro.

* Jornalista e escritor

terça-feira, 12 de maio de 2009

Fim dos vestibulares?

Fonte: Rubem Alves, hoje na Folha

Minha neta tinha 16 anos. Ela é inteligente, tem determinação e sua cabeça estava cheia daquelas ideias fantásticas que habitam as cabeças adolescentes. Estava se preparando para o vestibular. No sofá ela lia um caderno espiralado lindamente ilustrado. Biologia, ciência fascinante! Quantas revelações fantásticas sobre a vida deveriam se encontrar naquele caderno! Mas ela lê com uma cara de absurdo.

O absurdo produz uma expressão facial característica, mistura de raiva e tédio. Raiva porque é obrigatório que se engula aquilo contra a vontade. Tédio porque aquilo que é obrigatório engolir não faz o menor sentido. E que, por isso mesmo, será logo esquecido.

É preciso que algum fenomenólogo descreva essa expressão fisionômica, tão frequente no rosto dos alunos que se preparam para o vestibular.

Fiquei mordido de curiosidade e quis saber o que ela estava aprendendo de biologia para entrar na universidade. "O que é que você está lendo?", perguntei. Com uma cara desanimada, ela apontou com o dedo o parágrafo que estava lendo e me passou o caderno. Comecei a ler. E, à medida em que lia, minha cara foi ficando igual à dela. Eis o que li.

"Além da catálase, existem nos peroxíssomos enzimas que participam da degradação de outras substâncias tóxicas, como o etanol e certos radicais livres. Células vegetais possuem glioxissomos, peroxissomos especializados e relacionados com a conversão das reservas de lipídios em carbohidratos. O citosol (ou hialoplasma) é um colóide... No ciosol das células eucarióticas, existe um citoesqueleto constituído fundamentalmente por microfilamentos e microtúbulos, responsável pela ancoragem de organóides... Os microtúbulos têm paredes formadas por moléculas de tubulina..."

Seguia-se uma descrição da complexa rede que forma o rabo do espermatozoide...

A raiva cresceu dentro de mim e quis encontrar o culpado. Pus-me a perguntar: quem tomou a decisão de tornar obrigatório o conhecimento dessas informações? Por que esses saberes devem ser aprendidos? O que é que os adolescentes vão fazer com esses nomes? Nomes, nada mais do que nomes...

Esforço inútil, porque tudo será esquecido. A memória não é burra. Não carrega conhecimentos que não fazem sentido. A memória inteligente sabe esquecer. O absurdo educacional dos vestibulares se encontra no fato de que eu serei reprovado, os reitores serão reprovados, os professores universitários serão reprovados, os professores de cursinhos serão reprovados...

Agora os vestibulares tiveram o seu fim decretado. Fico feliz, porque há mais de vinte anos eu tenho estado lutando por isso. O que me levou a pensar muito e a escrever muito sobre esse equívoco educacional. Parte do que escrevi se encontra no meu site: www.rubemalves.com.br

Mas tenho um receio. Imaginem um restaurante que servia uma comida de gosto ruim, indigesta e que provocava vômitos e diarreia. O dono do restaurante, diante das queixas dos seus clientes, resolve fazer uma reforma na forma como a comida era servida: trocou as panelas velhas por panelas novas e a louça branca antiga, por uma louça azul. Mas a comida continuou a mesma... Será possível que isso aconteça?

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Luiz Fernando Veríssimo

-Papai, o que é Páscoa?

-Ora, Páscoa é... bem.... é uma festa religiosa!

-Igual ao Natal?

-É parecido. Só que no Natal comemora-se o nascimento de Jesus, e na Páscoa, se não me engano, comemora-se a sua ressureição.

-Ressurreição?

-É, ressurreição. Marta , vem cá !

-Sim?

-Explica pra esse garoto o que é ressurreição pra eu poder ler o meu   jornal.

-Bom, meu filho, ressurreição é tornar a viver após ter morrido. Foi o   que aconteceu com Jesus, três dias depois de ter sido crucificado. Ele ressuscitou e subiu aos céus. Entendeu ?

-Mais ou menos... Mamãe, Jesus era um coelho?

-O que é isso menino? Não me fale uma bobagem dessas! Coelho! Jesus Cristo é o Papai do Céu ! Nem parece que esse menino foi batizado! Jorge, esse menino não pode crescer desse jeito, sem ir numa missa pelo  menos aos domingos.  Até parece que não lhe demos uma educação cristã ! Já pensou se ele solta uma besteira dessas na escola ? Deus me perdoe !  Amanhã mesmo vou matricular esse moleque no catecismo!

-Mamãe, mas o Papai do Céu não é Deus ?

-É filho, Jesus e Deus são a mesma coisa. Você vai estudar isso no catecismo. É a Trindade. Deus é Pai, Filho e Espírito Santo.

-O Espírito Santo também é Deus?

-É sim.

-E Minas Gerais?

-Sacrilégio!!!

-É por isso que a ilha de Trindade fica perto do Espírito Santo?

-Não é o Estado do Espírito Santo que compõe a Trindade, meu filho, é o Espírito Santo de Deus. É um negócio meio complicado, nem a mamãe entende direito. Mas se você perguntar no catecismo a professora explica tudinho!

-Bom, se Jesus não é um coelho, quem é o coelho da Páscoa ?

-Eu sei lá ! É uma tradição. É igual a Papai Noel, só que ao invés de presente ele traz ovinhos.

-Coelho bota ovo ?

-Chega ! Deixa eu ir fazer o almoço que eu ganho mais !

- Papai, não era melhor que fosse galinha da Páscoa ?

-Era... era melhor,sim... ou então urubu.

-Papai, Jesus nasceu no dia 25 de dezembro, né?

-Que dia ele morreu ?

-Isso eu sei: na Sexta-feira Santa.

-Que dia e que mês?

- (???)Sabe que eu nunca pensei nisso ? Eu só aprendi que ele morreu na Sexta-feira Santa e ressucitou três dias depois, no Sabado de Aleluia.

-Um dia depois!

-Não três dias depois.

-Então morreu na Quarta-feira.

-Não, morreu na Sexta-feira Santa... ou terá sido na Quarta-feira de Cinzas? Ah, garoto, vê se não me confunde! Morreu na Sexta mesmo e ressuscitou no sábado, três dias depois!

-Como ?

-Pergunte à sua professora de catecismo!

-Papai, porque amarraram um monte de bonecos de pano lá na rua ?

-É que hoje é Sabado de Aleluia, e o pessoal vai fazer a malhação do Judas. Judas foi o apóstolo que traiu Jesus.

-O Judas traiu Jesus no Sábado ?

-Claro que não ! Se Jesus morreu na Sexta !!!

-Então por que eles não malham o Judas no dia certo ?

-Ui...

-Papai, qual era o sobrenome de Jesus?

-Cristo. Jesus Cristo.

-Só ?

-Que eu saiba sim, por quê?

-Não sei não, mas tenho um palpite de que o nome dele era Jesus Cristo Coelho. Só assim esse negócio de coelho da Páscoa faz sentido, não acha?

-Ai coitada!

-Coitada de quem?

-Da sua professora de catecismo!