segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Alexandria....

Dando uma passada pela Internet sobre os Cultura Grega (do qual faço um comentario no blog apenas um bom papo), uma coisa que me chamo a atenção foi a famosa Biblioteca de Alexandria...comenta-se que ela possuia em seu acervo algo em torno de 400 mil rolos de papiros, alguns acreditam que esta quantidade chego na casa de 1 milhão e que foi destruída em por acidente....daí fui olhar quem seriam seus guardiões (no caso os bibliotecários) desta que foi o mais importante espaço publico de preservação e divulgação da cultura nacional...

Mas voltando a seus guardiões, um nome que me chamo a atenção, foi de Hipacia de Alexandria, tido por muitos como a filósofa (isso mesmo, uma mulher) mais importantes de sua época. Hipacia foi violetamente assassinada por cristões enfurecidos, sobre o pretexto de combate a heresias....Hipacia era neoplatônica e defensora intransigente da liberdade de pensamento, o que a tornava má vista por aqueles que pretendiam encarcerar o pensamento nas celas da ortodoxia religiosa.

Mas voltando a Biblioteca de Alexandria...abaixo alguns nomes dos mais distintos de Alexandria Antiga.

Euclides: matemático, quarto século a.C. O pai da geometria e o pioneiro no estudo da óptica. Sua obra Os Elementos foi usada como padrão da geometria até o século XIX.

Aristarco de Samos: astrônomo, terceiro século a.C. O primeiro a presumir que os planetas giram em torno do Sol. Usou a trigonometria na tentativa de calcular a distância do Sol e da Lua, e o tamanho deles.

Arquimedes: matemático e inventor, terceiro século a.C. Realizou diversas descobertas e fez os primeiros esforços científicos para determinar o valor do pi (π).

Calímaco(c. 305-c. 240 a.C.): poeta e bibliotecário grego, compilou o primeiro catálogo da Biblioteca de Alexandria, um marco na história do controle bibliográfico, o que possibilitou a criação da relação oficial (cânon) da literatura grega clássica. Seu catálogo ocupava 120 rolos de pariro.

Eratóstenes : polímata (conhecedor de muitas ciências) e um dos primeiros bibliotecários de Alexandria, terceiro século a.C. Calculou a circunferência da Terra com razoável exatidão.

Galeno: médico, segundo século d.C. Seus 15 livros sobre a ciência da medicina tornaram-se padrão por mais de 12 séculos.

Herófilo: médico, considerado o fundador do método científico, o primeiro a sugerir que a inteligência e as emoções faziam parte do cérebro e não do coração.

Hipátia: astrônoma, matemática e filósofa, terceiro século d.C. Uma das maiores matemáticas, diretora da Biblioteca de Alexandria; por ser pagã, foi assassinada, sofrendo linchamento, a mando de São Cirilo.

Ptolomeu: astrônomo, segundo século d.C. Os escritos geográficos e astronômicos eram aceitos como padrão.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

E...

um Feliz Natal a todos....

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Ex-pedreiro inaugura no subúrbio do Rio biblioteca projetada por Niemeyer

Fonte: Folha

Contagiado há dez anos por uma paixão pelos livros, o ex-pedreiro Evando dos Santos, 48, não pára de lutar para espalhar esse sentimento.

Após reunir 55 mil títulos em sua casa, na Vila da Penha (bairro de classe média baixa na zona norte do Rio), ele inaugurou na sexta-feira a Biblioteca Comunitária Tobias Barreto de Menezes, desenhada pelo arquiteto Oscar Niemeyer. O prédio, no mesmo bairro onde mora, abriga 10 mil exemplares e sediará aulas de literatura e idiomas.

Nascido em Aquidabã (SE), ele veio com a família para o Rio aos 15 anos. Pouco depois, começou a trabalhar como pedreiro. Sequer com ensino fundamental, aprendeu a ler com a Bíblia. Mas o episódio que mudou sua vida ocorreu em 1998, quando, na obra de uma casa, ganhou 50 livros que iriam para o lixo.

A partir daí, tornou-se leitor voraz, começou a juntar outras obras e montou uma rede que já recebeu apoio tanto de anônimos quanto de nomes como o das escritoras Ana Maria Machado e Ruth Rocha, que fizeram doações.

Nos últimos dez anos, o "operário em construção" ajudou a fundar 45 bibliotecas comunitárias em todo o país. Também doou 4.700 livros para Angola e agora quer enviar outros 20 mil para Santa Catarina.

A história do pedreiro já virou livro e filmes, mas a biblioteca de três andares e 200 metros quadrados é sua principal obra. O espaço foi inaugurado com uma carta da escritora Nélida Piñon, da Academia Brasileira de Letras. "Considero-o um cidadão exemplar, capaz de sonhar, de devotar-se às utopias ao alcance do homem", escreveu.

A biblioteca levou três anos para ser construída e contou com R$ 651 mil do BNDES. Os livros podem ser retirados gratuitamente. Os estudantes Larissa Sabino da Silva, 10, e Ramon Martins, 11, foram os primeiros a pegar obras emprestadas. "Adoro ler, tenho uns 40 livros", disse Ramon.

Santos, que vive com o auxílio das aposentadorias da mulher e da mãe, conta que nunca teve "tentação" de vender as obras que reuniu. "Livro não devia ser vendido, devia ser editado apenas para ser doado", sonha.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Após dois anos fechada, Biblioteca Nacional de Brasília é inaugurada com 50 mil livros

Como diria Caetano, “é tudo lindo”....mas a pergunta é: quantas bibliotecas o Estado (em regiões bem mais necessitadas do que Brasília) conseguiria montar com todos esses recursos???

É pra se pensar!!!

Fonte: Agência Brasil

Dois anos após o aniversário de 99 anos de Oscar Niemeyer, o prédio da Biblioteca Nacional de Brasília foi inaugurado nesta quinta-feira (11). De lá para cá, polêmicas por causa da incidência do sol no edifício, que prejudicaria o acervo, impediram que ela fosse aberta de fato. No início da noite de hoje, as modernas instalações foram entregues, com acervo de 50 mil livros e a expectativa da visita de 3.000 a 5.000 pessoas por dia.

"Nós colocamos uma película que protege até 92% da luz e das irradiações solares de infravermelho. Ou seja, os livros estão protegidos e os usuários também. Esse trabalho foi feito em todas as paredes de vidro da biblioteca", assegurou o diretor da instituição, Antônio Miranda.

O processo levou esses dois anos porque, a princípio, o arquiteto da obra, Oscar Niemeyer, havia vetado a película nos vidros da biblioteca, porque interferiria na proposta inicial do projeto. Contudo, segundo Antônio Miranda, ela foi autorizada. O edifício tem cinco andares e 10 mil metros quadrados. O acervo foi doado por outras instituições e pessoas físicas.

"Marli de Oliveira, a esposa [do escritor] João Cabral de Melo Neto, faleceu, e a família nos honrou doando 8.000 livros da coleção pessoal dela, com autógrafos de grandes escritores brasileiros, como Manuel Bandeira e Carlos Drummond de Andrade, que eram amigos dela", contou Miranda.

Além dos 50 mil livros, o Ministério da Cultura fez um repasse de R$ 2,5 milhões, que deve ser publicado no Diário Oficial da União nos próximos dias. De acordo com o diretor da biblioteca, o dinheiro servirá para a compra de mais de 150 mil exemplares.

Oscar Niemeyer, que completa 101 anos no próximo dia 15, esteve presente ao lançamento da revista "Nosso Caminho", que aconteceu em seguida à inauguração, mas falou pouco. Após o discurso do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, Niemeyer disse que "é importante trabalharmos juntos para construir um mundo mais justo e melhor".

O coordenador nacional de Livro de Leitura, Jéferson Assumção, destacou que a biblioteca "está em um lugar simbólico, na capital do país, na Esplanada dos Ministérios. É muito importante colocar o livro com destaque no imaginário coletivo do brasileiro", disse Assumção.

Além do lugar ser de destaque por sua simbologia - estar próximo às principais sedes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário -, ele também fica próximo ao principal ponto de trânsito de pessoas do Distrito Federal: a rodoviária de Brasília.

"Cerca de 400 mil pessoas passam diariamente pela rodoviária, vindos de muitas partes do Distrito Federal. Isso é muito importante, então é colocar o livro bem próximo de onde passam as pessoas. Isso é a grande qualidade dessa biblioteca", completou Jéferson Assumção.

Para o ministro da Cultura, Juca Ferreira, "biblioteca é importante em qualquer lugar do mundo e nós estamos fazendo um esforço no Brasil de atingir essa meta em meados do ano que vem, e essa biblioteca é fundamental, porque vai prestar um serviço a uma parcela da população que tem dificuldade de ter acesso à cultura".

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Casa do Saber

Fonte: Casa do Saber

A Casa do Saber é um centro de debates e disseminação do conhecimento em São Paulo, que oferece acesso à cultura de forma clara e envolvente, porém rigorosa e fiel às obras dos criadores.

Em um ambiente extra-acadêmico, a Casa do Saber oferece cursos livres, palestras e oficinas de estudo nas áreas de artes plásticas, ciências sociais, cinema, filosofia, história, música e psicologia, reunindo renomados professores e conferencistas.

As palestras e os cursos, estes com duração de um a seis meses, apresentam o diferencial de serem ministrados em pequenos grupos, para promover a troca de idéias e maior interação entre os participantes e os mestres.

Carta de Princípios  

Por um saber sem dogmas

O saber é um meio de aprimorar o ser humano: pressupõe o debate, o embate democrático e a diversidade de idéias.

Pela preservação e usufruto da cultura

É uma necessidade do ser humano, em busca do crescimento, absorver, traduzir e entender a riqueza cultural existente.

Pela criação de um centro de troca

A Casa do Saber é um lugar privilegiado de troca de conhecimento. Aqui se resgata e se estimula o debate entre as diferentes áreas do saber. Aqui se acredita que o saber se transmite de forma mais eficiente por meio do intercâmbio e do diálogo.

Por uma linguagem clara, acessível e rigorosa

A linguagem e a metodologia devem ser claras, eficazes e facilitadoras de acesso e da apreensão do conhecimento.

A linguagem deve estimular a conversa, a curiosidade e o prazer da reflexão.

Por um contato enriquecedor

A Casa do Saber é também um centro do prazer de pensar, de se expressar e de aprender.          

Trecho do livro "A Viagem do Elefante", de José Saramago

Este entra pra minha listinha de quero ler....

“Não há vento, porém a névoa parece mover-se em lentos turbilhões como se o próprio bóreas, em pessoa, a estivesse soprando desde o mais recôndito norte e dos gelos eternos. O que não está bem, confessemo-lo, é que, em situação tão delicada como esta, alguém se tenha posto aqui a puxar o lustro à prosa para sacar alguns reflexos poéticos sem pinta de originalidade. A esta hora os companheiros da caravana já deram com certeza pela falta do ausente, dois deles declararam-se voluntários para voltar atrás e salvar o desditoso náufrago, e isso seria muito de agradecer se não fosse a fama de poltrão que o iria acompanhar para o resto da vida, Imaginem, diria a voz pública, o tipo ali sentado, à espera de que aparecesse alguém a salvá-lo, há gente que não tem vergonha nenhuma. É verdade que tinha estado sentado, mas agora já se levantou e deu corajosamente o primeiro passo, a perna direita adiante, para esconjurar os malefícios do destino e dos seus poderosos aliados, a sorte e o acaso, a perna esquerda de repente duvidosa, e o caso não era para menos, pois o chão deixara de poder ver-se, como se uma nova maré de nevoeiro tivesse começado a subir. Ao terceiro passo já não consegue nem sequer ver as suas próprias mãos estendidas à frente, como para proteger o nariz do choque contra uma porta inesperada. Foi então que uma outra ideia se lhe apresentou, a de que o caminho fizesse curvas para um lado ou para o outro, e que o rumo que tomara, uma linha que não queria apenas ser recta, uma linha que queria também manter-se constante nessa direcção, acabasse por conduzi-lo a páramos onde a perdição do seu ser, tanto da alma como do corpo, estaria assegurada, neste último caso com consequências imediatas. E tudo isto, ó sorte mofina, sem um cão para lhe enxugar as lágrimas quando o grande momento chegasse. Ainda pensou em voltar para trás, pedir abrigo na aldeia até que o banco de nevoeiro se desfizesse por si mesmo, mas, perdido o sentido de orientação, confundidos os pontos cardeais como se estivesse num qualquer espaço exterior de que nada soubesse, não achou melhor resposta que sentar-se outra vez no chão e esperar que o destino, a casualidade, a sorte, qualquer deles ou todos juntos, trouxessem os abnegados voluntários ao minúsculo palmo de terra em que se encontrava, como uma ilha no mar oceano, sem comunicações. Com mais propriedade, uma agulha em palheiro. Ao cabo de três minutos, dormia. Estranho animal é este bicho homem, tão capaz de tremendas insónias por causa de uma insignificância como de dormir à perna solta na véspera da batalha. Assim sucedeu. Ferrou no sono, e é de crer que ainda hoje estaria a dormir se salomão não tivesse soltado, de repente, em qualquer parte do nevoeiro, um barrito atroador cujos ecos deveriam ter chegado às distantes margens do ganges. Aturdido pelo brusco despertar, não conseguiu discernir em que direcção poderia estar o emissor sonoro que decidira salvá-lo de um enregelamento fatal, ou pior ainda, de ser devorado pelos lobos, porque isto é terra de lobos, e um homem sozinho e desarmado não tem salvação ante uma alcateia ou um simples exemplar da espécie. A segunda chamada de salomão foi mais potente ainda que a primeira, começou por uma espécie de gorgolejo surdo nos abismos da garganta, como um rufar de tambores, a que imediatamente se sucedeu o clangor sincopado que forma o grito deste animal. O homem já vai atravessando a bruma como um cavaleiro disparado à carga, de lança em riste, enquanto mentalmente implora, Outra vez, salomão, por favor, outra vez. E salomão fez-lhe a vontade, soltou novo barrito, menos forte, como de simples confirmação, porque o náufrago que era já deixara de o ser, já vem chegando, aqui está o carro da intendência da cavalaria, não se lhe podem distinguir os pormenores porque as coisas e as pessoas são como borrões indistintos, outra ideia se nos ocorreu agora, bastante mais incómoda, suponhamos que este nevoeiro é dos que corroem as peles, a da gente, a dos cavalos, a do próprio elefante, apesar de grossa, que não há tigre que lhe meta o dente, os nevoeiros não são todos iguais, um dia se gritará gás, e ai de quem não levar na cabeça uma celada bem ajustada. A um soldado que passa, levando o cavalo pela reata, o náufrago pergunta-lhe se os voluntários já regressaram da missão de salvamento e resgate, e ele respondeu à interpelação com um olhar desconfiado, como se estivesse diante de um provocador, que havê-los já os havia em abundância no século dezasseis, basta consultar os arquivos da inquisição, e responde, secamente, Onde é que você foi buscar essas fantasias, aqui não houve nenhum pedido de voluntários, com um nevoeiro destes a única atitude sensata foi a que tomámos, manter-nos juntos até que ele decidisse por si mesmo levantar-se, aliás, pedir voluntários não é muito do estilo do comandante, em geral limita-se a apontar tu, tu e tu, vocês, em frente, marche, o comandante diz que, heróis, heróis, ou vamos sê-lo todos, ou ninguém. Para tornar mais clara a vontade de acabar a conversa, o soldado içou-se rapidamente para cima do cavalo, disse até logo e desapareceu no nevoeiro. Não ia satisfeito consigo mesmo. Tinha dado explicações que ninguém lhe havia pedido, feito comentários para que não estava autorizado. No entanto, tranquilizava-o o facto de que o homem, embora não parecesse ter o físico adequado, deveria pertencer, outra possibilidade não cabia, pelo menos, ao grupo daqueles que haviam sido contratados para ajudar a empurrar e puxar os carros de bois nos passos difíceis, gente de poucos falares e, em princípio, escassíssima imaginação. Em princípio, diga-se, porque ao homem perdido no nevoeiro imaginação foi o que pareceu não lhe ter faltado, haja vista a ligeireza com que tirou do nada, do não acontecido, os voluntários que deveriam ter ido salvá-lo. Felizmente para a sua credibilidade pública, o elefante é outra coisa. Grande, enorme, barrigudo, com uma voz de estarrecer os tímidos e uma tromba como não a tem nenhum outro animal da criação, o elefante nunca poderia ser produto de uma imaginação, por muito fértil e dada ao risco que fosse. O elefante, simplesmente, ou existiria, ou não existiria. É portanto hora de ir visitá-lo, hora de lhe agradecer a energia com que usou a salvadora trombeta que deus lhe deu, se este sítio fosse o vale de josafá teriam ressuscitado os mortos, mas sendo apenas o que é, um pedaço bruto de terra portuguesa afogado pela névoa onde alguém (quem) esteve a ponto de morrer de frio e abandono, diremos, para não perder de todo a trabalhosa comparação em que nos metemos, que há ressurreições tão bem administradas que chega a ser possível executá-las antes do passamento do próprio sujeito. Foi como se o elefante tivesse pensado, Aquele pobre diabo vai morrer, vou ressuscitá-lo. E aqui temos o pobre diabo desfazendo-se em agradecimentos, em juras de gratidão para toda a vida, até que o cornaca se decidiu a perguntar, Que foi que o elefante lhe fez para que você lhe esteja tão agradecido, Se não fosse ele, eu teria morrido de frio ou teria sido comido pelos lobos, E como conseguiu ele isso, se não saiu daqui desde que acordou, Não precisou de sair daqui, bastou-lhe soprar na sua trombeta, eu estava perdido no nevoeiro e foi a sua voz que me salvou, Se alguém pode falar das obras e feitos de salomão, sou eu, que para isso sou o seu cornaca, portanto não venha para cá com essa treta de ter ouvido um barrito, Um barrito, não, os barritos que estas orelhas que a terra há-de comer ouviram foram três. O cornaca pensou, Este fulano está doido varrido, variou-se-lhe a cabeça com a febre do nevoeiro, foi o mais certo, tem-se ouvido falar de casos assim, Depois, em voz alta, Para não estarmos aqui a discutir, barrito sim, barrito não, barrito talvez, pergunte você a esses homens que aí vêm se ouviram alguma coisa. Os homens, três vultos cujos difusos contornos pareciam oscilar e tremer a cada passo, davam imediata vontade de perguntar, Onde é que vocês querem ir com semelhante tempo. Sabemos que não era esta a pergunta que o maníaco dos barritos lhes fazia neste momento e sabemos a resposta que lhe estavam a dar. Também não sabemos se algumas destas coisas estão relacionadas umas com as outras, e quais, e como. O certo é que o sol, como uma imensa vassoura luminosa, rompeu de repente o nevoeiro e empurrou-o para longe. A paisagem fez-se visível no que sempre havia sido, pedras, árvores, barrancos, montanhas. Os três homens já não estão aqui. O cornaca abre a boca para falar, mas torna a fechá-la. O maníaco dos barritos começou a perder consistência e volume, a encolher-se, tornou-se meio redondo, transparente como uma bola de sabão, se é que os péssimos sabões que se fabricam neste tempo são capazes de formar aquele maravilhas cristalinas que alguém teve o génio de inventar, e de repente desapareceu da vista. Fez plof e sumiu-se. Há onomatopeias providenciais. Imagine-se que tínhamos de descrever o processo de sumição do sujeito com todos os pormenores. Seriam precisas, pelo menos, dez páginas.”

"A Viagem do Elefante"

Autor: José Saramago

Editora: Companhia das Letras

Páginas: 256

Preço sugerido: R$ 42,00

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Por que não?

Autor: Marcelo Rubens Paiva, Estado de Sábado

Por que você não pega o ônibus que passa na sua rua? Você conhece o itinerário dele? Vá até o ponto final, para ver como é a cidade que ele atravessa diariamente. Volte até o ponto inicial.

Por que você não prepara uma viagem para conhecer a cidade em que seus avós nasceram? E, se der, por que você não os leva? Por que você não aprende a língua deles, caso sejam imigrantes estrangeiros?

Por que você não vai conhecer aquele parente de quem ouviu muito falar, mas a quem nunca viu pessoalmente?

Se você tem empregada, por que não dá um beijo nela, assim que levantar da cama? Por que não aceita aquele convite de conhecer a casa dela? Marque a visita para o próximo domingo. E leve o vinho mais caro que encontrar.

Por que você não abraça o seu porteiro e combina de beber uma cerveja depois do expediente com ele? Por que não vai conhecer a casa das máquinas do seu prédio com o zelador? Por que não abre um champanhe no teto do prédio, com ele? Vêem o sol se pôr.

Se você mora em casa, por que não pergunta para o vigia da sua rua onde ele nasceu, como foi a sua infância, se é casado e tem filhos? Por que não o convida para jantar antes do serviço? Cozinhe pra ele. Como se cozinhasse para o rei.

Por que você não liga agora para os seus pais e não diz quanto os ama? Por que não vai hoje à noite comer uma pizza com eles e folhear álbuns de infância, reler cartas, ouvir histórias? Por que você não abre o armário do seu pai e olha roupa por roupa, gaveta por gaveta, como ele se veste atualmente? Por que você não dorme na antiga caminha em que dormia?

Por que você não faz as pazes com os seus irmãos? Convide todos para irem ao circo. Pague pipoca para eles. Por que não vão todos depois aos bastidores conversar com os trapezistas?

Por que você não paga pipoca para todas as criança do berçário vizinho, que fazem uma algazarra incrível na hora do recreio? Por que você não aproveita e brinca com elas? Por que você não pode ou não quer?

Por que você não visita a sua escola primária? Ande pelos corredores e tente reconhecer alguns professores. Por que você não se senta no banco escolar de onde assistia as aulas? Por que você não procura na biblioteca o seu nome nas fichas de livros que leu no colegial? Peça o mesmo sanduíche que comia na lanchonete da escola. Por que não aproveita e paga para todos os alunos presentes uma rodada de milk-shake? Lembra quanto você era duro e de como era caro tomar um?

Por que você não liga já para a sua primeira namorada ou namorado e marca um café? Marca para um sábado qualquer. Por que você não liga para a segunda namorada ou namorado e relembra todas as besteiras que fizeram, os apelidinhos que se deram, os presentes que trocaram?

Por que você não escreve uma carta? Por que você não compra selos e posta a carta numa caixa de correio que resiste ao tempo? Você sabe onde tem uma caixa de correio perto?

Por que você não escreve uma carta para antigos namorados ou namoradas relembrando todas as coisas boas que vocês viveram? Por que você não escreve uma carta para você mesmo, contando todas as besteiras que fez na vida, listando os arrependimentos? Coloque num envelope selado, enfie na caixa de correio mais próxima.

Por que você não começa hoje a ler o livro que sempre teve vontade, mas que nunca teve tempo? E por que não decora a letra daquela música que ama? Por que não aproveita e decora o número do seu cartão de crédito novo?

Por que você não vai a uma praça rolar na grama? O que o impede de subir na gangorra ou balanço? E numa árvore? Siga as formigas. Escute abelhas. Reparou que um adulto só volta a ser criança na velhice?

Por que é tão difícil quebrar os hábitos, fugir do padrão, deixar o óbvio de lado? Por que ignorar o incomum? E, o pior de tudo, por que a rotina nos é fundamental?

Por que você não poda as árvores da sua quadra, por que não planta flores nos canteiros da sua calçada, por que não adota um gato? Por que você não passa o dia na janela, observando o movimento e a rotina dos vizinhos? Falta de tempo? De interesse?

Por que uma criança sempre ri?

Por que não arrumar os livros em gênero, os discos em ordem alfabética, as roupas por estilo? Por que não doar agora aqueles livros, discos e roupas de que não gosta? Por que não passar o dia desenhando? Por que não desenhar na parede da sala? E que tal comer um tomate inteiro, como se fosse uma maçã? Ou sucrilhos, grão por grão? Lamba o prato. Enfie o dedo no bolo. Use a colher do açucareiro, para dispersar o açúcar no café.

Vá ao estádio de futebol e se sente na arquibancada com a torcida rival. Torça, um dia apenas, para um time que nunca imaginou que existisse. O improvável é tão impossível assim?

Durma olhando para as estrelas, coma sem usar os talheres, corra para ver os cavalos acordarem, converse com os moradores de rua do bairro, entre no metrô de costas, cante alto uma música no vagão, vá à varanda mais próxima e uive com os cachorros na madrugada. Por que o diferente amedronta?

Vá ao aeroporto ver avião subir. Conte quantas nuvens tem agora no céu. Tente desvendar qual animal elas lembram. Abra os braços, respire fundo, feche os olhos, sinta no rosto a umidade da brisa, escute o vento, a cidade viva. Diz: "Como é bom tudo isso..." Agora repete.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A humanidade não merece a vida

Fonte: Folha

Prêmio Nobel português se define como um "comunista hormonal" e afirma que os instintos servem melhor aos animais do que a razão aos homens

O ESCRITOR português José Saramago, 86, disse ontem que "a história da humanidade é um desastre" e que "nós não merecemos a vida". O autor, vencedor do Nobel de Literatura em 1998, participou de sabatina da Folha em celebração dos 50 anos da Ilustrada. O debate, assistido por 300 pessoas em um Teatro Folha lotado, teve como mediador o secretário de Redação do jornal Vaguinaldo Marinheiro. Participaram também, como entrevistadores, o crítico Luiz Costa Lima, a repórter da Ilustrada Sylvia Colombo e Manuel da Costa Pinto, colunista do caderno.

HUMANIDADE

A história da humanidade é um desastre contínuo. Nunca houve nada que se parecesse com um momento de paz. Se ainda fosse só a guerra, em que as pessoas se enfrentam ou são obrigadas a se enfrentar... Mas não é só isso. Esta raiva que no fundo há em mim, uma espécie de raiva às vezes incontida, é porque nós não merecemos a vida. Não a merecemos. Não se percebeu ainda que o instinto serve melhor aos animais do que a razão serve ao homem. O animal, para se alimentar, tem que matar o outro animal. Mas nós não, nós matamos por prazer, por gosto. Se fizermos um cálculo de quantos delinqüentes vivem no mundo, deve ser um número fabuloso. Vivemos na violência. Não usamos a razão para defender a vida; usamos a razão para destruí-la de todas as maneiras -no plano privado e no plano público.

MARXISMO HORMONAL

Desde muito novo orientei-me para a consciência de que o mundo está errado. Não importa aqui qual foi o grau da minha militância todos esses anos. O que importa é que o mundo estava errado, e eu queria fazer coisas para modificá-lo. O espaço ideológico e político em que se esperava encontrar alguma coisa que confirmasse essa idéia era, é claro, a esquerda comunista. Para aí fui e aí estou. Sou aquilo que se pode chamar de comunista hormonal. O que isso quer dizer? Assim como tenho no corpo um hormônio que me faz crescer a barba, há outro que me obriga a ser comunista.

CRISE ATUAL

Marx nunca teve tanta razão quanto agora. O trabalho constrói, e a privação dele é uma espécie de trauma. Vamos ver o que acontece agora com os milhões de pessoas que vão ficar sem emprego. A chamada classe média acabou. Ou melhor: está em processo de desagregação. Falava-se em dois anos [para a recuperação da economia depois da crise financeira]; agora já se fala em três. Veremos se Marx tem ou não razão.

DEUS E BÍBLIA

Por que eu teria de mudar [a concepção de Deus após a doença]? Porque supostamente me salvou a vida? Quem me salvou foram os médicos e a minha mulher. E Deus se esqueceu de Santa Catarina? Não quero ofender ninguém, mas Deus não existe. Salvo na cabeça das pessoas, onde está o diabo, o mal e o bem. Inventamos Deus porque tínhamos medo de morrer, acreditávamos que talvez houvesse uma segunda vida. Inventamos o inferno, o paraíso e o purgatório. Quando a igreja inventou o pecado, inventou um instrumento de controle, não tanto das almas, porque à igreja não importam as almas, mas dos corpos. O sonho da igreja sempre foi nos transformar em eunucos. A Bíblia foi escrita ao longo de 2.000 anos e não é um livro que se possa deixar nas mãos de um inocente. Só tem maus conselhos, assassinatos, incestos...

RELAÇÃO COM PORTUGAL

Espalham por aí idéias sobre minha relação com meu país que não estão corretas. Saímos [Saramago e sua mulher, Pilar] de Lisboa [para a ilha de Lanzarote] em conseqüência de uma atitude do governo, não do país nem da população. Mas do governo, que não permitiu que meu livro ["O Evangelho Segundo Jesus Cristo"] fosse inscrito num prêmio da União Européia. Nunca tive problemas com o meu país, mas com o governo, que depois não foi capaz de pedir desculpas. Nisso, os governos são todos iguais, dificilmente pedem desculpas. Fomos para lá e continuamos pagando impostos em Portugal. Agora temos duas casas. Mudei de bairro, porque o vizinho me incomodava. E o vizinho era o governo português.

ACORDO ORTOGRÁFICO

Em princípio, não me parecia necessário. De toda forma, continuaríamos a nos entender. O que me fez mudar de opinião foi a idéia de que, se o português quer ganhar influência no mundo, tem de adotar uma grafia única. Se Portugal tivesse 140 milhões de habitantes, provavelmente teríamos imposto ao Brasil a nossa grafia. Acontecem que os 140 milhões estão no Brasil, e o Brasil tem mais presença internacional. Perderíamos muito com a idéia de que o português é nosso, nós o tornaríamos uma língua que ninguém fala. Quando acabou o "ph", não consta que tenha havido uma revolução.

LITERATURA BRASILEIRA

Houve um tempo em que os autores brasileiros estavam presentes em Portugal, e em alguns casos podíamos dizer que conhecíamos tão bem a literatura brasileira quanto a portuguesa. Graciliano Ramos, Jorge Amado, os poetas, como João Cabral [de Melo Neto], Manuel Bandeira, essa gente era lida com paixão. Para nós, aquilo representava a voz do Brasil. Agora, que eu saiba, não há nenhum escritor brasileiro que seja lido com paixão em Portugal. Culpo a mim, talvez, por não ter a curiosidade. Mas também não temos a obrigação de descobrir aquilo que nem sabemos se existe.

LEITOR

O leitor me importa só depois que escrevi. Enquanto escrevo, não importa, porque não se escreve para um leitor específico. Há dois tempos, o tempo em que o autor não tinha leitores e o tempo em que tem. Mas a responsabilidade é igual, é com o trabalho que se faz. Agora, eu penso nos leitores quando recebo cartas extraordinárias. É um fenômeno recente. Ninguém escreveu a Camões, mas hoje há essa comunicação, essa ansiedade do leitor.

"Em nome de todos os brasileiros, obrigada por existir", disse alto, ao final da sabatina, uma integrante da platéia, enquanto Saramago terminava de falar.

Assista ao vídeo da sabatina

www.folha.com.br/0833310

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Quatrocentona, biblioteca dos monges passa por informatização

Nos últimos seis anos, 12 mil dos 100 mil títulos do tradicional Mosteiro de São Bento já foram catalogados

Fonte: Estado

Oásis de repouso, tranqüilidade e oração no meio do caótico e barulhento centro de São Paulo, o Mosteiro de São Bento esconde, dentro de seus domínios, uma rica biblioteca, possivelmente a mais antiga da cidade. São 100 mil títulos, sobretudo dedicados à área de Humanidades, como Religião, Filosofia, Literatura e História. Nos últimos seis anos, esse vasto acervo - recheado de obras raras - passa por um processo de reorganização e informatização. Um trabalho de formiguinha capitaneado por André de Araújo, de 29 anos, bibliotecário profissional contratado pelos monges. Ele conta com a ajuda de um assistente e de alunos-bolsistas da Faculdade de São Bento - atualmente são quatro. Até agora, o grupo deu conta de 12% do total do trabalho. Sim, se continuar nesse ritmo, a catalogação eletrônica completa levará meio século.

O tempo nunca foi problema para os religiosos da Ordem de São Bento, medieval organização religiosa fundada pelo santo católico que viveu entre os anos 480 e 550. As normas da vida monástica foram sistematizadas em um livro de 73 capítulos, de autoria atribuída ao santo e conhecido como Regra de São Bento. No coração de São Paulo, os 42 monges que abraçaram a ordem observam religiosamente, sem trocadilho, esse regimento.

Por isso, desde 1598, quando os beneditinos aqui chegaram, o silêncio da madrugada do claustro é rompido pontualmente às 5h05, quando um deles badala o sino que desperta todos os companheiros. Em 25 minutos, ficam a postos no altar da ainda fechada Basílica de Nossa Senhora da Assunção, a igreja contígua ao mosteiro, para entoar o Ofício Divino, primeira das cinco orações do gênero celebradas diariamente.

Assim como a oração, a leitura também está presente na Regra. O capítulo 48 recomenda que os monges se entreguem diariamente ao trabalho e aos livros. Isso fez com que historicamente todo mosteiro nascesse com uma coleção de obras. “Presume-se que já existisse uma biblioteca, mesmo que pequena, quando o mosteiro foi fundado, em 1598”, afirma o bibliotecário André de Araújo. “Quando, na Idade Média, a cultura letrada praticamente desapareceu no Ocidente, ela sobreviveu na Igreja, graças, principalmente, aos mosteiros”, completa o monge-bibliotecário Carlos Eduardo Uchôa, de 46 anos. O hábito de ler é cultivado até durante as refeições: enquanto os outros, em silêncio absoluto, comem, um monge fica responsável por recitar textos sagrados e trechos de livros de Filosofia ou História.

Na comunidade monástica, cada religioso tem sua incumbência. Há o cozinheiro, o alfaiate, o tesoureiro... Uchôa - ou dom Eduardo, como costuma ser tratado - entrou para o Mosteiro de São Bento há 13 anos. Três anos depois, assumiu a biblioteca. “Como sou historiador e artista plástico, naturalmente tenho uma predileção pelos livros”, justifica ele, que acumula duas outras funções: é reitor do Colégio de São Bento e diretor da faculdade homônima, ambos anexos ao mosteiro.

ACESSO RESTRITO

Desde que os monges decidiram profissionalizar a gestão da biblioteca, dom Eduardo tem atuado como coordenador. É dele a palavra final na compra de novos títulos, por exemplo. “Sempre que precisamos de alguma obra nova, preciso levar o pedido até o dom Eduardo”, confirma Araújo. Mas é o jovem bibliotecário, com seus cabelos longos e dois brincos em cada orelha, que cuida, não apenas do processo de reorganização por que passa a biblioteca, como do dia-a-dia de seu funcionamento.

Formado em Biblioteconomia pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), Araújo conheceu dom Eduardo quando estava preparando seu trabalho de conclusão de curso, em 2001. O tema escolhido foi justamente a importância das bibliotecas beneditinas ao redor do mundo. “Aí, quando acabei, vim até o mosteiro trazer uma cópia para presenteá-lo, em agradecimento”, conta. Então decidiram contratá-lo. “Quando comecei a minha atuação, de forma alguma poderia jogar as regras da Biblioteconomia radicalmente aqui. Procurei respeitar o contexto existente e propor uma forma de organização que fosse coerente.”

Como a biblioteca tem um caráter particular - ou seja, é voltada para o uso interno dos monges -, o acervo é fechado. Há duas entradas ao espaço. Uma, interligada ao claustro e de uso exclusivo dos monges, pode ser acessada a qualquer dia, a qualquer horário. “Um monge tem autonomia para retirar livro daqui quando quiser”, explica Araújo. “Pedimos sempre que, quando não estamos trabalhando, eles nos deixem um bilhetinho avisando, para que saibamos onde está o exemplar.” O bibliotecário admite, entretanto, que nem todos cumprem essa norma.

Já pela outra porta são recebidos os visitantes externos. Em geral, alunos do colégio e da faculdade, que podem utilizar os livros dali quando precisam - pesquisadores de fora também são recebidos, sob agendamento prévio. Mas nada de circular entre as estantes. O freqüentador pede o que quer e o bibliotecário - ou alguém de sua equipe - fica encarregado da procura pela obra. “De certa forma, é graças a isso que os livros antigos estão tão bem conservados assim”, acredita Araújo. “É uma biblioteca com baixa circulação de pessoas.”

Por falar em livros antigos, o acervo beneditino conta com 581 títulos publicados entre os séculos 15 e 18. “O cuidado é tanto que, ao catalogarmos essas obras, nem utilizamos etiquetas”, diz o bibliotecário, mostrando uma tirinha de papel colocada entre a capa e a primeira página de um desses exemplares, com as informações que normalmente constam em etiquetas na lombada. O livro, aliás, é a edição de 1676 da Steganographia, do monge Johannis Trithemius, que aparecia no famoso índex de leituras proibidas pela Igreja Católica. “O autor foi muito perseguido”, acrescenta.

Entre esses títulos há tesouros raríssimos, como seis incunábulos. São livros rudimentares, dos primórdios da imprensa, que mesclam o manuscrito com os tipos móveis. O mais antigo do acervo, de 1496, traz o Novo Testamento em quatro volumes. Há ainda um exemplar romeno de 1500 com a coleção de sermões de Pelbarti de Themefwar, um pregador húngaro.

Araújo aproveitou bem a oportunidade de vivenciar esse fabuloso universo editorial preservado pelos beneditinos paulistanos. Decidiu transformá-lo em tema para seu mestrado em História, cuja dissertação será defendida amanhã, às 14 horas, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP).

Com seus 100 mil títulos, a biblioteca principal não é a única mantida pelo Mosteiro de São Bento. Há uma outra, com 3 mil volumes, para servir ao colégio; uma de cerca de 500 obras à disposição do abade - a autoridade máxima da comunidade; e muitos são os monges que têm coleções particulares em suas celas.

PARA O PAPA LER

Durante as duas noites e os três dias em que esteve na cidade, em maio de 2007, o papa Bento 16 hospedou-se no Mosteiro de São Bento. Tudo foi preparado para que o líder máximo da Igreja Católica se sentisse bem acolhido. “Precisamos ficar atentos para qualquer coisa que ele precisasse. Fizemos plantão”, lembra Araújo. “Mas o papa não chegou a vir para a biblioteca”, conta.

Com a ajuda dos monges, o bibliotecário preparou uma seleção de 30 títulos que ficaram na cela que acomodou o papa. “Em caráter museológico, estão lá até hoje”, revela. O acervo foi pensado como uma miscelânea de obras religiosas, culturais, artísticas, literárias e históricas. A maioria procurava mostrar ao líder católico um pouco do panorama brasileiro. Bento 16 pôde ler, por exemplo, os sermões completos de Padre Antônio Vieira em alemão. Ou se divertir com a prosa de Machado de Assis, com os livros Dom Casmurro, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Ressurreição e A Mão e A Luva. Mas deixou de conhecer a beleza da biblioteca dos monges paulistanos.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

'A CRISE'

Para se pensar!

Fonte: Revista Brasileiros

Um homem vivia à beira de uma estrada e vendia cachorros quentes. Ele não tinha rádio, televisão e nem lia jornais, mas produzia e vendia bons cachorros quentes.

Ele se preocupava com a divulgação do seu negócio e colocava cartazes pela estrada, oferecia o seu produto em voz alta e o povo comprava. As vendas foram aumentando e, cada vez mais ele comprava o melhor pão e a melhor salsicha.

Foi necessário também adquirir um fogão maior para atender uma grande quantidade de consumidores, e o negócio prosperava. Seu cachorro quente era o melhor de toda região! Vencedor, ele conseguiu pagar uma boa escola ao filho.

O menino cresceu, e foi estudar economia numa das melhores faculdades do país. Finalmente, o filho já formado, voltou para casa, notou que o pai continuava com a vidinha de sempre e teve uma séria conversa com ele:

- Pai, então você não ouve rádio? Você não vê televisão e não lê os jornais? Há uma grande crise no mundo. A situação do nosso país é crítica. Está tudo ruim. O Brasil vai quebrar.

Depois de ouvir as considerações do filho doutor, o pai pensou: 'Bem, se meu filho que estudou economia, lê jornais, vê televisão, acha isto então só pode estar com a razão'.

Com medo da crise, o pai procurou um fornecedor de pão mais barato (e

é claro, pior) e começou a comprar salsichas mais barata (que era, também, a pior).

Para economizar, parou de fazer cartazes de propaganda na estrada. Abatido pela notícia da crise já não oferecia o seu produto em voz alta.

Tomadas essas 'providências', as vendas começaram a cair e foram caindo, caindo e chegaram a níveis insuportáveis e o negócio de cachorro quente do velho, que antes gerava recursos até para fazer o filho estudar economia na melhor escola, quebrou.

O pai, triste, então falou para o filho:

- Você estava certo, meu filho, nós estamos no meio de uma grande crise.

E comentou com os amigos, orgulhoso:

- Bendita a hora em que eu fiz meu filho estudar economia, ele me avisou da crise.

Aprendemos uma grande lição:

Vivemos em um mundo contaminado de más notícias e se não tomarmos o devido cuidado, essas más notícias nos influenciarão a ponto de roubar a prosperidade de nossas vidas.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

"Não precisei ler o Paulo Coelho", diz Saramago em SP

Fonte: Folha

Único prêmio Nobel de Literatura da língua portuguesa, José Saramago, 86, disse que não precisou ler a obra de Paulo Coelho para ficar mais sereno. A afirmação foi nesta terça-feira em São Paulo.

"Não precisei ler o Paulo Coelho. Uma boa doença vale por toda obra do Paulo Coelho", disse em tom de brincadeira.

A serenidade veio após o período em que ficou muito doente e que o obrigou a interromper o livro que veio lançar no Brasil, "A Viagem do Elefante".

Totalmente recuperado, Saramago está em São Paulo também para promover a exposição "A Consistência dos Sonhos", que também tem uma versão em livro, uma cronobiografia assinada por Fernando Gómez Aguilera.

Saramago ainda participa de sabatina da Folha na próxima sexta-feira (28), no teatro Folha (av. Higienópolis, 618, 2º piso, São Paulo). As inscrições para o evento estão encerradas.

Sobre o novo livro, Saramago afirmou que o inusitado é que a dosagem de humor que colocou na obra. Ele também afirmou que fez uma certa "garimpagem" espontânea de vocabulário ao usar espontaneamente palavras de sua adolescência e infância.

"Usei palavras que tinham ficado enterradas no passado, somos compostos de sedimentos lingüísticos", afirmou o escritor português.

"A Viagem do Elefante" tem lançamento pela Companhia das Letras e custa R$ 42. A exposição será inaugurada na próxima sexta-feira no Instituto Tomie Ohtake (av. Faria Lima, 201, Pinheiros, tel. 0/xx/11/2245-1900), em São Paulo, e permanece até 15 de fevereiro de 2009.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Borges no Brasil: bibliotecas sem livros

Fonte: Folha

Em 1941, o bruxo argentino Jorge Luis Borges escreveu "A Biblioteca de Babel" e contou o mistério do "Livro Total". Seria "o compêndio perfeito de todos os demais", receptáculo de todo o conhecimento humano. O tesouro estaria perdido.

Pobre Borges. Não viveu o suficiente para ver que são inesgotáveis as horríveis imaginações da mente. Em Brasília e Goiânia existem bibliotecas muito mais cerebrinas. Burocratas da cultura, associados a empreiteiros e governantes letrado$, criaram as bibliotecas sem livros, um desafio para filósofos e delegados de polícia.

Os dois templos do nada foram projetados por Oscar Niemeyer e inaugurados em 2006 (ano eleitoral). Deveriam custar algo mais que R$ 40 milhões cada uma. A Biblioteca Nacional de Brasília fica a 500 metros da catedral. Tem cinco andares e 14 funcionários, mas está fechada. Seu acervo 50 mil livros ainda não foi catalogado. Os donatários esclarecem que o prédio tem capacidade para 250 mil volumes.

A biblioteca irmã tem três pisos, 1.200 m2 e fica em Goiânia, no Centro Cultural Oscar Niemeyer. Está fechada porque o governo não pagou ao empreiteiro que, por sua vez, apresentou contas que somam R$ 65 milhões. Ao contrário do que sucedeu em Brasília, tem acervo, mas os livros estão encaixotados, pois a instituição não tem funcionários.

Talvez o "Livro Total" de Borges e a imaginação de Umberto Eco esclareçam o mistério. Tendo absorvido toda a sabedoria humana, o monge cego Jorge de Burgos, de "O Nome da Rosa", percebeu a irrelevância do conhecimento e organizou bibliotecas sem livros.

Seriam a prova do compromisso dos governantes com a inteligência, sem dispersar esforços com objetos obsoletos. Burgos já fez isso na Bibliotheca Alexandrina, no Egito, que precisará de 80 anos para encher seu prédio de US$ 65 milhões, e na Megabiblioteca do México, inaugurada e fechada por defeitos na construção. Os empreiteiros ganharam seu dinheirinho, os governantes fizeram festas, os edifícios deslumbraram os transeuntes e, mais uma vez, a patuléia fez papel de boba.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Estudos....

Infelizmente neste país, ainda não se é possível a dedicação exclusiva aos estudos, ficando restrito a um pequeno numero de pessoas....mas eu ainda acredito em mais esta UTOPIA...

90% dos estagiários dependem da bolsa para continuar curso

Nova lei de estágio, em vigor há 46 dias, causou queda de 40% nas vagas

Fonte: Estado

Cerca de 90% dos estagiários do País dependem da bolsa-estágio para se manter na faculdade. A constatação é de levantamento do Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube) e da Associação Brasileira de Estágios (Abres) com 15 mil estagiários e 40 agentes de integração do País. “Só uma pequena parte afirmou usar o valor que recebe no estágio para atividades de lazer ou gastos pessoais. A grande maioria depende da bolsa para se manter na faculdade, principalmente os que estão nas instituições privadas”, diz Seme Arone Júnior, presidente da Abres.

Nos últimos 46 dias - após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ter sancionado a nova lei que regulamenta os estágios -, o número de vagas oferecidas caiu 40%, segundo pesquisa da Abres revelada pelo Estado ontem. A estimativa da entidade é que demore cerca de dois anos para que a oferta volte ao normal.

O motivo é o desconhecimento das novas regras, que têm confundido as empresas e as instituições de ensino superior. Hebe Mary Varejão, coordenadora de estágios na área de Nutrição na Escola Técnica Estadual Carlos de Campos, em São Paulo, confirma a diminuição, mas considera o fenômeno temporário. “É só até as empresas se adaptarem”, afirma.

Mas a burocracia exigida para adaptar contratos e modificar as propostas pedagógicas dos cursos torna o processo mais lento. Para tentar acabar com a polêmica, os Ministérios da Educação e do Trabalho afirmaram que se pronunciarão oficialmente, enviando um comunicado às instituições de ensino com instruções práticas até o fim do mês.

Enquanto isso, os alunos esperam uma solução. “Por burocracia, eu quase perdi meu primeiro estágio”, conta Débora Lima dos Santos, de 20 anos. Ela está no 2º ano de Secretariado-Executivo da Universidade São Judas. “Com a nova regra, a faculdade dizia que o Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee) precisava assinar meu contrato. O Ciee discordava”, conta. “Enquanto isso, o tempo foi passando e eu corria o risco de perder a vaga.”

No início da semana, o problema foi solucionado. De acordo com a São Judas, a exigência da presença do Ciee no contrato está na legislação.

A gerente jurídica do Ciee, Maria Nilce Mota, no entanto, questiona a exigência e afirma que, segundo o artigo 16 da nova lei, somente o estagiário, a instituição de ensino e a empresa concedente são obrigados a assinar o termo de compromisso.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O que se deve ler sobre o Brasil

Esta lista de livros recomendados é fruto de uma necessidade.Incontáveis são as ocasiões em que estudantes e pessoas curiosas,amantes da leitura, perguntam sobre uma boa indicação bibliográfica.
Quais seriam os títulos a se ler sobre o Brasil? De fato, o volume delesé tão avassalador nos dias de hoje que é quase impossível poderacompanhar as publicações que saem em fornadas das editoras. Oleitor interessado chega a ficar tonto. Todavia, segue uma relação daqueles que nos parecem os mais significativos.
O conteúdo da lista



A maioria dos livros arrolados é de história, sociologia e deliteratura, pois elas são as áreas que mais oferecem condições paraobter-se o conhecimento mais amplo sobre um povo. Listaram-setanto os considerados como clássicos da cultura brasileira comooutros, tidos como de apoio.
Alternou-se tratados históricos com livros de ficção, desde quefossem fundamentais aos propósitos do Memorial do RS e da Câmarado Livro. Quanto às novelas e romances, encontrou-se uma limitação,visto não ser possível resenhar todas as que são significativas noespaço que nos coube.
Ficaram assim de fora da presente listagem autores comoGregório de Matos, Machado de Assis, José de Alencar, Lima Barreto,Jorge Amado e tantos outros mais. Em parte porque eles são tãoconhecidos, lidos e admirados que não necessitam entrar nestarelação porque já são muito lidos.
Lamentou-se não ter incluído no rol outras expressões da nossacultura tais como a música popular e erudita, as artes plásticas, aarquitetura, etc. Também, com uma outra exceção, evitou-se oregionalismo, procurando selecionar os livros que tratam sobre o Brasilde maneira mais geral e ampla.

ABREU, Capistrano de - Capítulos da História Colonial(1500-1800). Brasília, Editora da UnB.Conjunto de ensaios seminais sobre a história do períodocolonial feito pelo famoso historiador cearense José Capistrano deAbreu. É considerado o primeiro historiador a enfatizar as questõessócio-econômicas, diminuindo a importância da crônica política. Tratouda formação indígena nacional, dos descobridores, da organização daocupação lusa em forma de capitanias, da presença francesa eespanhola do alargamento das fronteiras pela conquista do sertão.Desconsiderou o movimento da Inconfidência por ele não se terconcretizado, ter ficado apenas no plano das intenções.
ALBUQUERQUE, Manoel Maurício de - "Pequena Históriada Formação Social Brasileira". Rio de Janeiro, EditoraGraal, 728 páginas.Manual de história brasileira, de 1981, com ênfase inicial nas atividadeseconômicas da sociedade escravista, a estrutura jurídicopolitica da etapa colonial, sua estrutura ideológica, a transição para a subordinação do país ao capitalismo mundial, sua respectiva estrutura jurídico-politica e ideologia, concluindo com etapa recente, a capitalista liberal.
ANDRADE, Mário de - Aspectos da Literatura Brasileira.Belo Horizonte, Editora Itatiaia, 288 páginas.Conjunto de ensaios do líder do movimento modernista brasileirotratando da obra de Machado de Assis e de outros autores tidos comoclássicos nacionais.
AZEVEDO, Fernando - "A Cultura Brasileira". Brasília,Editora Universidade de Brasília, 603 páginas.Levantamento da cultura brasileira,começando pelos condicionamentos geográficosdo país (hidrografia, flora, fauna, migrações, etc.),acompanhados de capítulos dedicados àsformações urbanas, à evolução sócio-política, àpsicologia do povo brasileiro, a sua vida religiosa,intelectual, científica, cultural e artística, bemcomo pelas várias etapas percorridas pelaeducação desde os tempos coloniais até aformação das principais universidades do país.
BASTIDE, Roger - "Brasil, terra de contrastes". São Paulo,Difusão Européia do livro, 282 páginas.Painel da sociedade brasileira feita por um sociólogo francês,enfatizando os contrastes entre o arcaico e o moderno. Começandocom a descrição da Amazônia, a estrutura criada no litoral em torno dacana-de-açúcar, a presença africana, as minas, o café, o pampa,encerrando-se com um capítulo dedicado às letras e artes.
BIELSCHOWSKY, Ricardo - Pensamento EconômicoBrasileiro: o ciclo ideológico do desenvolvimento. SãoPaulo, Editora Contraponto, 480 páginas.A melhor exposição sobre as teoria e idéias econômicas quemodelaram o Brasil do século XX, registro das polêmicas queenvolveram liberais e desenvolvimentistas, estruturalistas emonetaristas, personalidades como Celso Furtado, Roberto Campos,etc., com grande ênfase no papel desempenhado pela CEPAL e seusseguidores no Brasil.
BOJUNGA, Clóvis - JK, o artista do impossível. Rio deJaneiro, Editora Objetiva, 798 páginas.Alentada biografia do presidente Juscelino, oconstrutor de Brasília e um dos principais arquitetosdo Brasil moderno. Relato que acompanha oestadista desde os seus tempos de jovem médico daForça Pública de Minas Gerais até a sua mortetrágica num acidente na estrada Rio-São Paulo, em1976.
BOSI, Alfredo - "Dialética da Colonização". São Paulo,Editora Companhia das Letras, 404 páginas.Uma série de 10 ensaios, nos quais o autor procura descrever osmecanismos de certos aspectos culturais do país, partindo dos temposcoloniais, de Anchieta, de Vieira, de Antonil, passando por Alencar echegando até aos problemas raciais brasileiros e seus reflexos naliteratura, encerrando-se com considerações sobre o nosso estágiocultural.
BOXER, Charles R. - "A Idade de Ouro do Brasil". SãoPaulo, Companhia Editora Nacional, 390 páginas.Painel da sociedade colonial brasileira no século XVIII, feito porum historiador inglês, descrevendo os efeitos econômicos damineração que provocaram a expansão das fronteiras e a criação degado.
CÂNDIDO, Antônio - "Formação da Literatura Brasileira:1750-1880". Belo Horizonte, Editora Itatiaia, 2 volumes, 803páginas.Notável estudo de como a literatura brasileira, que nãodescende das gestas medievais, mas que é resultado de uma"transplantação" cultural, misturada com elementos nativos eafricanos, vai lentamente adquirindo personalidade própria, forjandosua linguagem e sua original temática.
CARDOSO, Fernando H. - Escravidão no BrasilMeridional. São Paulo, Difusão Européia do Livro, 1962.Tese pioneira na análise do trabalho escravo dasrelações escravistas numa parte bem pouco conhecida doBrasil; no Rio Grande do Sul. O autor, na época, eraintegrante da famosa escola de sociologia da USP(Universidade de São Paulo) e se dedicou a estudar ofenômeno da escravidão em outras paragens do Brasil,que não fossem as do Nordeste ou do Centro-Leste do país.
CARONE, Edgar - "A República Velha", São Paulo,Difusão Européia do Livro, 2 volumes, 875 páginas.Dividido em um volume dedicado às instituições e classes sociaise outro à evolução política, abarcam a históriabrasileira desde a proclamação de 1889 até arevolução de 1930. São livros-marco de umgrande projeto que cobre toda a históriarepublicana brasileira sob o viés marxistaTrabalho erudito, destacando-se pelaimpressionante informação qualitativa sobre asociedade brasileira em geral. O autor seguiupublicando outros títulos ao longo da suaatividade como historiador das instituições e davida política e econômico- social do Brasil doséculo XX.
CARVALHO, José Murilo de - "Construção da Ordem",São Paulo, Editora Relume Dumará.Trata-se da história da burocracia imperial brasileira. É umaanálise detalhada e profunda da composição dos grupos dirigentes,em particular a magistratura, que criaram o Estado-nacional e oconsolidaram ao longo do Primeiro Reinado, da Regência e dosprimeiros anos do Segundo Reinado.
CASCUDO, Luís da Câmara - "Dicionário do FolcloreBrasileiro". Rio de Janeiro, Ediouro, 930 páginas.Imenso arquivo coletado pelo autor, com oauxílio de vários outros colaboradores, paraorganizar, em verbetes, a vastidão da culturapopular brasileira, com suas raízes indígenas,seus caipiras com suas lendas e expressõessingulares. Encontram-se, também, pequenasbiografias de estudiosos dos nossos folclores,intercaladas com lendas de todas as regiões do país.
CASTRO, Josué - Geografia da Fome. Rio de Janeiro,Editora Civilização Brasileira, 318 páginas.Memorável ensaio de sociologia sócio-econômica, escrito noapós-II GM, no qual o autor denuncia as mazelassociais e os desequilíbrios regionais do Brasil,terminando com a visão eufórica que até então existiasobre o país. Acima de tudo, é um livro de denúnciaque visava à mobilização nacional para superar acalamidade da fome, do impaludismo e das doençasdecorrentes do atraso nacional e do descaso oficial.
CHACON, Vamireh - História dos Partidos Brasileiros.Brasília, Editora da UnB, 811 páginas.A mais abrangente história da vida partidária no Brasil moderno.Obra fundamental para o conhecimento das agremiações políticas queatuaram no Brasil desde o império. Divide-se o livro numa primeiraparte, dedicada às formações políticas do império e das várias etapasrepublicanas (da Iª República em diante) para, depois, lhes analisar oconteúdo programático e ideológico.
CORTESÃO, Jaime - A carta de Pero Vaz de Caminha.Lisboa. Edições Livro de Portugal, 351 páginas.Além de contar com a edição íntegra do documento, segue-seuma detalhada análise da Carta de Caminha - que registra adescoberta do Brasil - feita por um notável historiador portuguêsexilado no Brasil.
COUTINHO, Afrânio - "Introdução à Literatura no Brasil".Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 321 páginas.Classificação da literatura brasileira dentro dos grandes quadrosculturais do barroco, do rococó, do romantismo, do realismo, donaturalismo, do parnasianismo até os movimentos modernos, taiscomo o simbolismo e o impressionismo, havendo, ainda, um especialsobre a semana da arte moderna e seu legado.
COUTO DE MAGALHÃES, General - "O Selvagem", BeloHorizonte, Livraria Itatiaia - USP, 159 páginas.Grande trabalho etnográfico, concluído em 1876, que investiga oprimitivo homem americano, as suposições de sua penetração noBrasil, as línguas faladas pelas tribos brasileiras, os tipos de raças eas mestiçagens ocorridas, bem como a estrutura familiar e a religiãodas nossas tribos, encerrando com um capítulo dedicado às mitologiastupi-guaranis.
CRUZ COSTA, - "Contribuição à História das idéias noBrasil". Rio de Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 456páginas.Obra dividida em três grandes momentos das idéias do Brasil:Primeiro expõe a herança portuguesa e as vicissitudes daformação colonial; depois as principais correntes filosóficas que poraqui aportaram ao longo do século XIX, especialmente o positivismo,alcançando até as considerações do presente, determinado pelo pósguerra.
CUNHA, Euclides - "Os Sertões". Rio de Janeiro, LivrariaFrancisco Alves, 471 páginas.Extraordinária obra, publicadaem 1902, sobre a campanha deCanudos, arraial situado no sertãobaiano onde, entre 1896-1897, váriascolunas militares do governorepublicano se enfrentaram com ossertanejos seguidores de AntônioConselheiro. Livro que é, ao mesmotempo, um ensaio literário e histórico,considerado um dos mais relevantesda cultura do Brasil.
DEAN, Warren - "A Industrialização de São Paulo". SãoPaulo, Difusão Européia do Livro/USP, 269 paginas.História dos primórdios da industrialização do mais poderosoestado da união, e, por igual, como a burguesia industrial emergiu daburguesia rural e imigrante, entre 1880-1914, e os efeitos que aPrimeira Guerra Mundial provocou na formação do nosso parqueindustrial.
DELLA CAVA, Ralph - "Milagre em Juazeiro". Rio dejaneiro, Editora Paz e Terra, 279 páginas.O Surgimento no Cariri, em pleno sertãocearense, da figura carismática do Padre CíceroRomão Batista, o "Padim Ciço" dos beatos ebeatas. Notável estudo das condições sociais dointerior do nordeste e dos conflitos internos daigreja católica brasileira com a européia, queconduziram à formação de um grande poderpolítico ao redor do patriarca sertanejo.
DULLES, J.W.F - Getúlio Vargas: biografia política.Alentado ensaio historiográfico, redigido comisenção e objetividade por este autor norte-americano,sobre a personalidade política de Getúlio Vargas.Percorre a vida do estadista desde seus tempos deestudante e integrante do partido republicano riograndense(PRR), até sua derradeira ascensão aopoder. Além disso, é uma obra síntese da vida políticanacional durante os anos do getulismo.
FAORO, Raymundo - "Os donos do Poder", Porto Alegre,Editora Globo, 2 volumes, 750 páginas.Imenso ensaio histórico que trata da evoluçãopolítica brasileira, desde suas origens, no estadoportuguês, até a eclosão da Revolução de 1930, e areconcentração da vida política nacional feita pormecanismos autoritários. É uma tentativa deabordar a nossa história com os recursos dasociologia de Max Weber, dando ênfase nosaspectos administrativos, burocráticos epatrimonialísticos da nossa sociedade.
FAUSTO, Boris - História do Brasil. São Paulo, Edusp,2002. 660 páginas.Novíssima história do Brasil, merecedora do Prêmio Jabuti. É obrada nova geração de historiadores, que enfatiza os aspectoseconômicos e sociais da história brasileira no contexto da evoluçãodos sistemas econômicos internacionais.
FENELON, Dea Ribeiro (org.) - "50 textos de História doBrasil", São Paulo, Editora Hucitec, 210 páginas.Volume utilíssimo na medida em que organiza os principaisdocumentos e interpretações de momentos-chave da históriabrasileira desde o início da expansão ultramarina portuguesa; dafixação dos reinóis, nas terras coloniais, à organização e consolidaçãodo estado nacional nos princípios da independência, até o Brasil dosanos de 1970.
FREYRE, Gilberto - "Casa-Grande e Senzala". Rio deJaneiro, Editora José Olimpio, 572 páginas.Primeira parte da trilogia de uma históriasocial do Brasil, surgida em 1933 (os outrosvolumes são "Sobrados e Mocambos" e"Ordem e Progresso"), entendida sob oprisma do sincretismo cultural entre o branco, negro e o índio, comênfase na presença luso-africana na configuração cultural e noscostumes gerais do Brasil. É um dos maiores clássicos da ensaísticabrasileira, obra verdadeiramente revolucionária e magistralmente bemescrita.
FURTADO, Celso - A Formação Econômica do Brasil. SãoPaulo, Companhia Editora Nacional, 256 páginas.A mais influente e difundida obra sobre a históriaeconômica do Brasil. Livro publicado em início dos anos50 do século XX, ideologicamente comprometido com odesenvolvimentismo e com o anticolonialismo, defensorda industrialização do país, segundo o intervencionismoadvogado pela doutrina econômica da Cepal.
GASPARI, Élio - A Ditadura Envergonhada. São Paulo, Ciadas Letras, 424 páginas.Primeiro livro de uma série de cinco que o autor pretende publicarsobre a história política da ditadura militar brasileira (1964-1985). Asua fonte principal de documentação é o acervo deixado pelo generalGolbery do Couto e Silva, ex-chefe do SNI (Serviço Nacional deInformações), que ocupava posição estratégica em larga parte doperíodo militar. É um relato tenso, rico em detalhes, dos bastidoresdas principais decisões que foram tomadas naquela época.
GORENDER, Jacob - "O Escravismo Colonial". São Paulo,Editora Ática, 592 páginas.Da mesma maneira que Marx estudou e dissecou a fundo osistema capitalista, atuando como um anatomista, Jacob Gorender ofaz com o sistema escravista, em sua especificidade colonial. O autorobserva que este sistema desenvolve um conjunto de leis próprias esingulares, que o destaca dos demais, como o feudalismo ouescravismo antigo. É um monumento da ciência social brasileira.
GUIMARÃES, Alberto Passos - "Quatro séculos delatifúndios". Rio de janeiro, Editora Paz e terra, 255 páginas.História do sistema latifundiário brasileiro, desde os tempos dassesmarias coloniais, passando pelas parcerias e pelos chamadosnúcleos de colonização de épocas mais recentes. A tese do autor éque o latifúndio continua praticamente intocado desde os tempos deMartim Afonso de Souza, impedindo, com sua estrutura iníqua, ademocratização do acesso a terra.
HOLANDA, Sérgio Buarque (dir.) - "História Geral daCivilização Brasileira". São Paulo: Difel, 4.500 páginas.Monumental obra sobre a história dasociedade brasileira e seus aspectos políticos,econômicos e sociais, desde os temposcoloniais até a República Velha. Divididanuma época colonial (2 volumes), no Brasilmonárquico (5 volumes) e no BrasilRepublicano(2 volumes), contando comespecialistas em cada um dos temas enfocados. O Brasil Republicanocontou com a direção do historiador Boris Fausto.
HOLANDA, Sérgio Buarque - "Raízes do Brasil". Rio deJaneiro, Livraria José Olympio Editora, 155 páginas.Um dos mais conhecidos ensaios sobre o Brasil, publicado em1936, simultaneamente, uma síntese histórico-sociológico e umaanálise das características nacionais mais marcantes. É nele que oautor defende a conhecida tese do brasileiro ser "o homem cordial" ecomo tal predisposição influencia no desenho da nossa realidade.
LAMBERT, Jacques - "Os dois Brasis". São Paulo, EditoraCompanhia Nacional, 277 páginas.Ensaio clássico deste sociólogo francês sobre a dualidade sócioeconômicado Brasil, um país onde o passado indígena e escravistacoabita com o presente industrial moderno. O autor interpreta assituações contrastantes da nossa sociedade dualista, a luta entre ovelho e o novo, onde desenvolvimento e subdesenvolvimento sedigladiam em todos os frontes.
LEAL, Victor Nunes - Coronelismo, enxada e voto. SãoPaulo, Editora Alfa-ômega, 280 páginas.Famosa monografia do jurista V.N.Leal sobre o sistema políticoeleitoral brasileiro, expondo os mecanismos de controle exercidospelos coronéis do sertão brasileiro sobre o eleitorado. Minimiza opapel do municipalismo e enfatiza a importância do controle sobre oestado.
MOREIRA LEITE, Dante - O caráter nacional brasileiro.São Paulo, Editora Pioneira, 378 páginas.Clássica tese sobre as várias interpretações que escritores eintelectuais brasileiros produziram, ao longo do tempo, no sentido deprocurarem identificar qual é, afinal, o caráter dos brasileiros.
LÉRY, Jean de - Viagem a Terra do Brasil. Rio de Janeiro,Biblioteca Editora do Exército.Uma das mais sensacionais narrativas sobre o Brasil no tempo dapresença francesa na baía de Guanabara (1555-1565). O autor era ummissionário calvinista enviado ao Brasil para ajudar no povoamento ecolonização da França Antártida na época de Villegagnon. O livro,editado em 1578 na cidade huguenote de La Rochelle, repleto derelatos sobre a vida e costumes indígenas, é considerado pelosantropólogos como o documento fundador da etnografia brasileira.
LÉVY-STRAUSS, Claude - "Tristes trópicos". Lisboa,Edições 70 413 páginas.Um dos mais célebres relatos antropológicos que seconhece sobre as sociedades indígenas brasileiras feitopor este eminente intelectual francês, que esteve emviagem de estudo pelo nosso sertão, nos anos de 1930.Depois das divagações autobiográficas iniciais, narrou sua experiênciacomo professor da USP, dedicou sua atenção em descrever a vidados caduevos, dos bororós, dos nambikwara e dos tupi-kawahib.
LIMA, Manoel de Oliveira - "O Movimento daIndependência: 1821-1822". São Paulo, EditoraMelhoramentos. 509 páginas.A mais ampla descrição do quadro histórico, econômico e socialem que ocorreu o processo de Independência do Brasil, feito por umdos maiores historiadores brasileiros. Trabalho erudito que celebra aimportância da chegada da corte portuguesa ao Rio de Janeiro, em1808, como responsável pela promoção do Brasil à categoria de ReinoUnido a Portugal, bem como elemento deflagrador indireto daemancipação brasileira, alcançada em 1822.
MACAULAY, Neil - "A coluna prestes", Difel. São Paulo,269 páginas.Narrativa feita por um historiador norte-americano daquela que foiconsiderada um dos grandes épicos da história do Brasil republicano:a marcha da Coluna Prestes que, saindo do sul do país, percorreutodo o sertão nordestino para se refugiar, finalmente, na Bolívia em1927.
MAGALHÃES, Basílio de - Expansão Geográfica do BrasilColonial. São Paulo, Editora Nacional, 348 páginas.Exposição dos ciclos econômicos que foram responsáveis pelaconquista do território brasileiro entre 1504 e 1696. Começando pelasentradas e bandeiras, seguido da procura do ouro e da caça à mãode-obra indígena, alcançando a difusão da criação do gado pelointerior do Brasil, responsável pela ocupação do Mato Grasso e deGoiás.
MARTINS, Wilson - "História da inteligência Brasileira".São Paulo, Editora Cultrix, 5 volumes, 3 mil páginas.Colossal obra do crítico W. Martins, abrangendo praticamentetodos os aspectos significativos da cultura literária e poética do Brasil,desde os tempos do Pe. Leonardo Nunes, no século XVI, até 1914.São 3 mil páginas que oferecem o mais amplo painel do que ficouregistrado de importante em nossa história cultural.
MELLO, Evaldo Cabral de - "O negócio do Brasil -Portugal, os Países Baixos e o Nordeste, 1641-1669". Riode Janeiro, Editora Topbooks, 273 páginas.Livro que analisa a ocupação holandesa do Nordeste (1830-1854),num contexto mais amplo, situando-a entre empreendimentosmercantilistas europeus, abarcando um horizonte que contemplava arota para a Índia e o comércio de escravos com o litoral africano.O negócio do Brasil mostraque o Nordeste batavo foi "bemmais do que um episódiopitoresco numa colônia remota" eexplica como os portuguesesrecompraram de volta oNordeste, então em mãos dosholandeses, pelo equivalente, naépoca, a 63 toneladas de ouro.
MORAIS, Fernando - "Chatô, o rei do Brasil". São Paulo,Companhia das Letras. 732 páginas.Biografia de Assis Chateaubriand, o poderoso jornalista queconstituiu a primeira rede de comunicações no Brasil, os DiáriosAssociados, que englobavam jornais, rádios e canais de televisão.Simultaneamente, é uma envolvente e um tanto tenebrosa descriçãode história da vida política e dos costumes brasileiros entre os anos de1920 a 1960.
MOTA, Carlos Guilherme - "Ideologia da CulturaBrasileira (1933-1974). São Paulo, Editora Ática, 368páginas.Uma das melhores exposições sobre a história das idéias noBrasil desde a Revolução de 1930 até a época da AberturaDemocrática do regime militar. Estão presentes não somente osgrandes nomes do pensamento nacional (cientistas políticos,ensaístas, acadêmicos...), mas também o resumo das ideologias decada um dos períodos analisados pelo autor.
NABUCO, Joaquim - "O Abolicionismo". Petrópolis, EditoraVozes, 204 páginas.Exemplar descrição da luta pela emancipação dosescravos no Brasil, publicada em 1883, feita por um dosprincipais líderes do movimento abolicionista, JoaquimNabuco, bem como uma acurada análise das leis dealforria que foram gradativamente aprovadas até aqueladata.
NABUCO, Joaquim - Um estadista do Império.Rio deJaneiro, Topbooks, 2 volumes, 1.444 páginas.Relato histórico da vida política de Nabuco de Araújo, pai doautor, um dos mais proeminentes homens do parlamento na época doimpério. Além de ser a biografia política do senador, é, acima de tudo,uma crônica da atividade parlamentar e das atividades econômicas esociais do Brasil durante o Segundo Reinado (1840-1889). Um doslivros mais admiráveis da historiografia brasileira.
PEREIRA, Luis Carlos Bresser - "Desenvolvimento e criseno Brasil". São Paulo, Editora Brasiliense, 230 páginas.Análise do desenvolvimento econômico brasileiro a partir do que oautor denomina a Revolução Industrial Brasileira, nos anos de 1930-9,a descrição da emergência do moderno empresariado e da classeoperária, a ascensão da tecnocracia e a luta ideológica entre aesquerda e os conservadores, encerrando-se com as três ideologiascapitalistas possíveis de dominar nosso cenário político-econômicofuturo.
PRADO JÚNIOR, Caio - "Formação do BrasilContemporâneo". São Paulo, Editora Brasiliense, 390páginas.Editado em 1942, foi considerado um trabalho inovador nocampo da interpretação da nossa história na medida em que seutilizou largamente das categorias marxistas para analisar nossopassado, com grande ênfase nas atividades econômicas do BrasilColônia.
PRADO, Paulo - Retrato do Brasil: ensaio sobre a tristezabrasileira. Rio de Janeiro, F. Briguet e Cia., 221 páginas.Famoso ensaio de um aristocrata paulista que repelia a visãoufanista do Brasil, contida na obra do Conde Afonso Celso. ParaPrado, era a tristeza do jaburu, pássaro longilíneo, solitário edesamparado, que melhor representava o estado de espírito nacional.O livro subdivide-se em capítulos dedicados à luxúria, cobiça, tristezae ao romantismo.
RAMOS, Graciliano - "Memórias do Cárcere". Rio deJaneiro, Editora Record, 697 páginas.O autor, simpatizante da esquerda, detido depois dofracasso do levante comunista de 1935, deixou umpungente relato do seu tempo de encarceramento nopresídio da Ilha Grande. Obra póstuma, publicada em1954, tornou-se um impressionante documento daliteratura carcerária mundial.
RIBEIRO, Darcy - "Teoria do Brasil". Rio de Janeiro,Editora Paz e Terra, 146 páginas.O Brasil, visto como resultado da grande expansão européia,provocada pela revolução mercantil e industrial que dividiu o mundoem povos desenvolvidos e subdesenvolvidos, fazendo com que nossopaís se configurasse entre os Povos-Novos. Um instigante ensaio deum dos mais conhecidos antropólogos brasileiros.
RODRIGUES, José Honório - "Aspirações nacionais". Riode Janeiro, Editora Civilização Brasileira, 234 páginas.Todo e qualquer país desenvolve em seu íntimo um conjunto deaspirações, o que deseja vir a ser. Este é o tema destaconhecidíssima obra, publicada em 1963, que ressalta o traçoconciliador na política nacional. A conciliação das elites por outro ladovisa à exclusão popular, tornando nossa vida política uma opção pelamediocridade.
ROSA, João Guimarães - "Grande Sertão: Veredas". Riode Janeiro, Livraria José Olympio Editora. 460 páginas.Fantástico romance narrado a partir de um relato feitopelo jagunço Riobaldo, de suas aventuras pelos sertõesterrivelmente agrestes do interior das Minas Gerais, e suaestranha relação com seu companheiro Diadorim. Foi ummarco da renovação da linguagem brasileira queincorporou todo o universo rústico e a sintaxe diferenciada, até entãopouco contemplada na nossa literatura.
SCHWARTZ, Roberto - "Ao vencedor as batatas". SãoPaulo, Livraria Duas Cidades, 169 páginas.Ensaio literário no qual o autor afirma estarem nossas idéias "forado lugar na medida em que elas são importadas da Europa, cujarealidade social e cultural é completamente distinta daquela existenteno Brasil dos tempos de Alencar e machado de Assis".
SILVA, Hélio - "O Ciclo de Vargas". Rio de Janeiro, EditoraCivilização Brasileira.Detalhado e criterioso levantamento de documentos edepoimentos de personagens da história contemporânea, que cobremgrande parte do século XX, desde a Proclamação daRepública, em 1889, até o movimento militar de 1964(incluído). É obra magna da historiografia jornalísticanacional, subdividida em volumes especiaisdedicados a cada um dos episódios que cobremtodos os eventos importantes do século passado,durante a Era Vargas (Revolta do Forte deCopacabana, Coluna Prestes, Revolução de 1930,etc.).
SANTIAGO, Silvano (org.) - Intérpretes do Brasil. Rio deJaneiro, Editora Nova Aguilar, 3 volumes, 4.699 páginas.Monumental edição dos maiores clássicos da cultura, do ensaioe da história brasileira, especialmente preparada para celebrar apassagem dos 500 anos da descoberta do Brasil. Nela estão osprincipais textos de Gilberto Freyre, Euclides da Cunha, AlcântaraMachado, etc. Formam, os 3 volumes, uma biblioteca-síntese com oque de melhor a cultura nacional produziu.
SIMONSEN, Roberto C. - "História Econômica do Brasil:1500-1820". São Paulo, Companhia Editora Nacional, 475páginas.Resultado do primeiro curso de história econômica brasileira,proferido pelo autor em São Paulo e publicado em 1937. É umaabrangente exposição da política econômica desde o início dasnavegações lusitanas, passando pelas inúmeras atividades coloniaisaté a chegada de D. João VI ao Brasil.
SKIDMORE, Thomas - "Brasil: de Getúlio e Castelo", Riode Janeiro, Editora Saga, 512 páginas.Narrativa da crônica política do Brasil, desde a Revolução de1930, liderada por Getúlio Vargas, até o colapso do sistemademocrático, ocorrido em 1964. Todos os grandes conflitos que asociedade brasileira viveu estão registrados em 7 grandes capítulos defácil entendimento.
SOUZA, Octávio Tarquínio de - "Introdução à Históriados Fundadores do Brasil". Belo Horizonte, Editora Itatiaia.A história do Brasil da época do Império, narradaatravés dos seus personagens principais, ao estilo dePlutarco, no qual a biografia é um recurso para exporuma vastidão de outros temas. Além dos 3 volumesdedicados a D.Pedro I, temos as biografias de JoséBonifácio, Bernardo Pereira de Vasconcellos, etc.
STADEN, Hans - "Viagem ao Brasil".Além de ser uma eletrizante narrativa da vida de um alemãonáufrago, capturado pelos tupinambás antropófagos do litoral deBertioga, em São Paulo, é uma notável fonte de informações sobre osrituais indígenas do Brasil do século XVI, e uma excelente exposiçãodas rivalidades luso-francesas para atraírem as simpatias dos nativos.
TAUNAY, Affonso de - "História das Bandeiras paulistas".São Paulo, Edições Melhoramentos, 2 volumes.Clássico relato das incursões dos bandeirantes, realizadasdesde o século XVII e que, partindo do planalto de Piratininga à caçade índios e de veios de ouro e pedras preciosas, desbravaram osertão brasileiro, abrindo caminho, assim, a sua posterior conquista epovoamento. É uma obra de celebração dos feitos dos antepassadosdos paulistas ("tipos notáveis"), que procura ressaltar o trabalhodesbravador deles e não o de preadores de mão-de-obra escrava.
VARNHAGEN, Francisco Adolfo - "História Geral doBrasil". 5 volumes.Obra mestra da historiografia brasileira, composta no século XIX,por um integrante do Instituto Histórico do Brasil, que se tornoureferência obrigatória a todos os estudiosos da história nacional. Seuscríticos apontam que ele teria criado o "quadrado de ferro",ideologicamente conservador, um molde rígido de ver a história,recheada de verdades tidas como indiscutíveis, que teriamcondicionado a maioria dos livros didáticos do país. Abrangente,impressionante e muito bem escrita.
VERISSIMO, Érico - "O Tempo e o Vento". Porto Alegre,Editora Globo, 3 volumes.Saga da família Terra-Cambará na conquista doRio Grande do Sul. Grande romance épico daliteratura sul-rio-grandense e brasileira, dividido emtrês grandes momentos: o continente, o retrato e oarquipélago. Narrativa fundamental para acompreensão de formação sócio-econômica e políticado Rio Grande do Sul, através de grandespersonagens-tipo.
VERISSIMO, José - "História da Literatura Brasileira",Brasília, Editora da Universidade de Brasília, 319 páginas.Primeira das sínteses da história da nossa literatura, publicada em1916, que vai de Bento Teixeira, no Brasil barroco-colonial, até aépoca de Machado de Assis, em 1908. Pautando-se por encontraraquilo que distingue a literatura brasileira da portuguesa,especialmente desde o Romantismo.
VIANA, Francisco José de Oliveira - PopulaçõesMeridionais do Brasil. Belo Horizonte, Editora Itatiaia, 2volumes.Um dos mais famosos e influentes ensaios da sociologia brasileirana ótica culturalista, liberal-conservadora. Ainda que classificado porseus contendores como racista, elitista, estatista, corporativista ecolonizado, a obra dele, especialmente este seu primeiro livro,aparecido em 1920, teve então um sucesso editorial que suscitouinteresse e notória repercussão, gerando produtivas polêmicas.
VIEIRA, Pe. Antônio - "Os Sermões". Difel, São Paulo, 438páginas.A mais alta expressão da cultura luso-brasileira do períodobarroco. Trata-se de uma coletânea de grandes sermões, entre eles oda Sexagésima, proferidos pelo autor durante sua longa estada noBrasil, no século XVII. Orador extraordinário, a prosa barroca de Vieiracarrega a carga emotiva e grandiloqüente de um dos períodos áureosda língua portuguesa. Os seus sermões completos foram editadospela Lello Editores de Lisboa, Portugal.

Fonte: Terra

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Crise? Compre um livro e se divirta

Há especialistas que garantem: a crise da economia mundial e o aperto no consumo não afetarão saúde do mercado editorial

Fonte: O Estado

Quando a economia vai bem, sempre aparece alguém para anunciar a “morte do livro”. Com a economia mundial na maior sinuca desde a Depressão, era de se esperar que até nos precisassem a data do enterro. Mas, apesar da recessão à vista e da alta dos custos de papel e impressão, a mais recente profecia sobre o futuro do livro não fala em morte, e sim em ressurreição. “Os livros podem recuperar o terreno supostamente perdido para outras formas mais dispendiosas de entretenimento”, previu há dias o britânico Laurence Orbach, há 32 anos à frente da editora Quarto.

Armado de números, Orbach minimiza os efeitos do aperto no consumo (“as vendas de títulos publicados continuam firmes e até subiram em algumas categorias”) e antevê um horizonte cor-de-rosa para quem se dispuser a investir em seu ramo de negócios: “Livros não dependem de publicidade, ao contrário das empresas de comunicação.” Também ganham na relação custo-benefício. Nos primeiros nove meses deste ano, as vendas da Quarto subiram 17% e seu lucro em operações paralelas foi de 15%. Qual o segredo? Livros de catálogo, relevantes por longo tempo, chova ou faça sol.

Foram livros de catálogo que asseguraram o “muito bom ano” que a Companhia das Letras viveu até agora, segundo Luiz Schwarcz. Cauteloso, mas otimista, Schwarcz acredita que as editoras e o comércio de livros possam de fato ser menos atingidos pela crise. “Livros são relativamente baratos, custam em média entre R$ 20 e R$ 40, e sua venda não depende de financiamento ao consumidor, como no caso dos eletrodomésticos”, acrescenta Roberto Feith, da Objetiva. “As vendas de automóveis já foram afetadas, as de livros, não”, ressalta Feith. Sem triunfalismo, pois sabe que o movimento nas livrarias depende, basicamente, do poder de compra da classe média, e há uma retração econômica agendada para 2009. “Este ano foi muito bom e penso que o Natal ainda será, mas 2009 deve ser mais difícil.”

Mais cético, Paulo Roberto Pires, diretor editorial da Agir, receia que ao menos uma marola do tsunami econômico-financeiro nos atinja. “Em nosso laguinho editorial, uma marola já faz um estrago danado”, salienta, fazendo questão de acentuar a excepcionalidade da editora de Orbach: “A Quarto faz packaging, isto é, vende livros prontos, com direitos zerados, para serem impressos para diversos países ao mesmo tempo, um modelo no qual a também inglesa DK é mestre.”

Na segunda-feira, a Doubleday Publishing Group, divisão da Random House que engloba quatro selos editoriais, dispensou 16 funcionários ou 10% de sua equipe. Era mais um sinal de que, ao contrário das estimativas de Orbach, a indústria de livros não vai bem das pernas. Ao menos nos EUA, epicentro da atual crise econômica, não vai. As vendas das cinco maiores editoras americanas subiram 0,5% na primeira metade de 2008, mas o movimento nas livrarias declinou em junho e deverá cair mais até o fim do ano, confirmando as ominosas avaliações de uma reportagem de Boris Kachka, publicada em 14 de setembro pela New York Magazine, com o lacônico título de “The end” (o fim). Oculto por elipse, o complemento “of publishing”.

O “fim da indústria editorial” tal como a conhecemos já estaria se processando a pleno vapor, espreitada de perto (perto até demais) pelo Kindle, o livro eletrônico da Amazon. Embora desencadeado antes das recentes turbulências no mercado financeiro, estas só contribuíram para dar razão aos seus oráculos. Wall Street ainda parecia navegar em águas plácidas quando as vendas de livros começaram a estagnar e uma expiação em regra teve início. Cabeças coroadas rolaram pelas mais cobiçadas portas das editoras, autores VIP foram avisados de que contratos milionários e generosos adiantamentos sobre hipotéticas estimativas de retorno tornaram-se coisa do passado - de um passado bonançoso, que, acredita-se, não volta mais.

Como os bancos e as financeiras que andaram quebrando nas últimas semanas, os conglomerados que se apossaram da indústria de livros foram vítimas de executivos desmedidamente ambiciosos e da insaciável ganância de seus acionistas. Buscar superávits de dois dígitos num ramo de negócios acostumado a 5% de lucratividade média revelou-se uma colossal insensatez. Absorvidas pelas cinco grandes corporações do ramo, pequenas editoras abriram mão de sua política editorial, ampliando a mesmice e contribuindo para um empobrecimento generalizado.

“O mercado teve suas opções drasticamente reduzidas”, analisou um poderoso agente literário. “A concorrência estreitou-se, escravizando as editoras a best sellers e à pilantragem retórica dos marqueteiros. Mas nem esta está dando mais certo. Até memórias de celebridades televisivas já não vendem tanto quanto algum tempo atrás, e é possível que os livros sobre cães e gatos, a coqueluche do momento, já estejam na linha de tiro. Ninguém sabe o que fazer. Resenhas favoráveis, jabás e recomendações na contracapa perderam seu condão combustivo. Ninguém sabe mais onde estão os leitores, nem como cativá-los.”

Em 1993 o escritor Philip Roth estimou a existência, nos EUA, de uns 120 mil “leitores sérios” (aqueles que lêem todas as noites), número que, a seu ver, cairia pela metade em 10 anos, e assim sucessivamente. Se procedente o cálculo, só cerca de 45 mil americanos vão para a cama com um livro todas as noites, atualmente. Suponho que a média brasileira não seja apenas bem inferior, mas descomunalmente inferior. Pena, porque a leitura, para cunhar uma frase original, só nos enriquece. Independentemente de gêneros.

A ficção é mais enriquecedora, defende o crítico James Wood, que publicou este ano um dos melhores ensaios da década: How Fiction Works. A ficção nos liberta, alardeia Russell A. Berman. Concordo, mas não pelos motivos arrolados por ele em Fiction Sets You Free, um dos livros mais tendenciosos dos últimos tempos, um clássico do determinismo econômico, furadíssimo se olharmos para o passado e pateticamente datado se nos fixarmos no caos presente. Publicado em 2007, despertou polêmicas periféricas em redutos que ainda levam a sério a salmodia neoconservadora, mergulhando em seguida no buraco negro do esquecimento, até ser exumado no Times Literary Supplement da semana passada, onde levou um merecido corretivo.

Berman é um autêntico oxímoro: um materialista dialético de direita. Sem, no entanto, a inteligência, o brilho, e muito menos a obra, do maluco-beleza Ezra Pound. Como o mais doutrinário ideólogo marxista, não consegue dissociar a literatura das condições econômicas sob as quais é produzida. Mas para concluir que a literatura melhor prospera - e mais libertária e enriquecedora resulta - quando produzida em países onde triunfou a economia de mercado. E todas aquelas obras-primas surgidas em regimes feudais e ditatoriais? Dostoievski não viveu no tempo dos czares?

Há quatro anos, Berman publicou uma catilinária bushista contra o antiamericanismo europeu, com base nos clichês habituais (os europeus têm uma “arraigada inveja moral” dos americanos, não toparam invadir o Iraque porque “negligenciam o genocídio”, apegam-se a idéias sócio-econômicas retrógradas, etc), de que Fiction Sets You Free é uma continuação. Para ele, ser contra os EUA, ainda que pontualmente, é ser contra o capitalismo e, por conseguinte, o humanismo, a imaginação, o empreendedorismo, a própria literatura. Toda obra ficcional, a seu ver, “cultiva a proeza imaginativa da visão empresarial”. E quem desaprova o comercialismo na literatura “está, no fundo, hostilizando os mecanismos do mercado”, assumindo uma “postura elitista”, o pejorativo da moda. Nem Ayn Rand, creio, foi tão longe na defesa de idéias recém-pervertidas pelos Gordon Gekkos de Wall Street.